sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

EDUCAÇÃO É EVOLUÇÃO CABANA

Professores das várias universidades federais, com mestrado e doutorado, estão se entranhando na Amazônia, cruzando céus, rios, furos, várzeas, igarapés, campos, cidades, para encontrar professores-alunos e procurar repassar-lhes conhecimentos que possibilitem ter, dentro de alguns anos, o ansiado (e hoje obrigatório para que possamos, um dia sonhar  em   atingir a  ambiciosa conquista da universalização do ensino superior)  curso superior necessário a quem exerce o magistério, notadamente no ensino infantil e  na  educação  básica e fundamental e que deve ter a consciência e a responsabilidade de, no mínimo, inocular,  no outro, o vírus  da leitura, do saber, do ser cidadão cultural, político, cidadão da (e com) educação  que transforma e dá chance de cada um ajudar no processo de desenvolvimento  da comunidade  e de todo o tecido e morfologia  social

É uma nova revolução sócio-política que se agrega à nossa contínua e nunca conclusa Cabanagem, a do saber, da instrução à um novo momento da sociedade amazônica.

Os professores das universidades, enfrentando, também as intempéries da floresta, deparam-se com a realidade amazônica que leram ou souberam, no viés da teoria pelos mestres que os antecederam na missão de fazer educação na região amazônica. Com essa prática, o professor universitário sente na pele as agruras do povo, a carência de infra-estrutura, de pequenos equipamentos urbanos e educacionais necessários  à uma vida digna.

Os professores das universidades, nessa jornada pelo interior do Pará através do programa de formação de professores – Parfor-, dão de cara com as necessidades básicas da gente parauara, carente de hospitais, de escolas, de bibliotecas, de livros e de quem possa traduzir o imenso cabedal de conhecimento empírico que portam e não são aproveitados na escola numa educação que aproveite língua e  linguagem, literatura e linguística, o que praticam culturalmente: a fala, o sotaque, o costume, o folclore, as cores com as quais pintam suas casas e seus objetos: cascos, remos; o material com que fazem o matapi, o abano, a cadeira, o beiju, as relações sociais e de  sumanaria através do afeto  e do carinho de que todos  nós somos e estamos carentes nesta  globalização  pós moderna ou de vida  líquida como apontam sociologias e filosofias contemporâneas. 

Percebi, nas andanças deste apostolado e missão que docentes e discentes do nosso vasto interior  permanecem usando   material didático-pedagógico  que vem de fora de sua realidade, que não fala de sua cultura; que não diz  de seu costume; que não mostra  o rosto antropológico de sua gente. Docentes e discentes do interior permanecem presos a uma grade curricular que não expressa suas necessidades e anseios numa escola da qual não querem mais frequentar por que absolesceu, caiu de podre.

Esse povo deseja educação libertadora inclusive das metodologias e práticas avaliativas, docentes e discentes desejam e precisam ir a campo para entender a história dos ancestrais, sentir de perto como se constrói uma canoa, como se esculpe um santo de altar, como tecer paneiro de meio alqueire, como retelhar  casa, como curar  entorse, calafetar barco, como tirar madeira, mandar pra longe quebranto de criança, como fazer peixe moqueado, no espeto. É necessário aproveitar saber e cultura do povo para introjetar os conteúdos necessários ao desenvolvimento da comunidade, ensinar a fazer política partidária e sair da mesmice de um conteúdo distante, de outra realidade que professores e alunos não vivem, não compartilham.

Alunos e professores merecem e precisam de mestres que os ajudem a pensar através das várias leituras de que dispõe a comunidade, utilizando o lendário e o imaginário da rica região amazônica de povo pobre e carente de políticas governamentais que contemple assistência básica (escolas de qualidade, acesso aos bens culturais, hospitais, saneamento, estradas e etc) sonegadas  sub-repticiamente por  falsos agentes da política-partidária  que tem se mostrado sempre cruel  com a comunidade, talvez por conta do sistema capitalista selvagem que o fórum econômico mundial, formado pelos “donos do mundo”, os ricos, tenha acordado para o monstro da ganância e do  lucro fácil que se nutre da desigualdade do povo pobre  pra favorecer os mais ricos, principalmente os de países em busca do desenvolvimento, como é o caso do Brasil e possamos ter um sistema econômico (e democrático) que produza riqueza e bem-estar para todos, aqui, incluso, o professore, pois não podemos entender, na mixórdia da desigualdade,  desembargador receber 40 mil de salário mensal e o  professor, a migalha  de menos de  um salário  mínimo, ou seja, menos de 700 reais (brutos)  às   suas necessidades, inclusive aquisição de livros e revistas para manter-se  minimamente informado e atualizado, isso para não comparar o que auferem mensalmente   jogador de futebol, parlamentar, funcionários dos parlamentos e similares e outros. Tudo porque é o professor, o responsável pela formação do cidadão. Entenda-se essa contradição quando se propala que se investe  em educação e se  a quer, de qualidade. Como?

Querem os professores das várias instituições de ensino mergulhados nessa jornada , a prática docente diferente daquela que exclui, reprova e faz com que o aluno  seja sempre  refém da triste estatística   da evasão da  escola pública ou privada (mesmice arquitetônica enquanto espaço físico de mau-gosto que não atrai ninguém para o seu interior) seja de que rede for, cujos equipamentos  nunca funcionam porque  alguém retirou peça fundamental, as carteiras  são anatomicamente desconfortáveis,  a iluminação é precária, calor insuportável, merenda mal preparada, não há  espaço  verde de lazer, nem  biblioteca com bom e atualizado  acervo.

Ninguém quer mais o  ambiente refletindo gestores e técnicos angustiados com uma burocracia que os deixa  estressados, arrogantes, grosseiros, mal remunerados, mal vestidos, mal cheirosos , mal amados  numa convivência  insuportável, todos carentes de atenção, de carinho, do afeto que dê  suporte  a uma boa administração que contemple  conviver com  a diversidade, compartilhar problemas e soluções, que haja espaço para  o elogio, que  elimine a violência e propicie clima de amor e  paz que neutraliza  tudo que impeça a prática do ensino motivado, animador, otimizado .

 Todos lutam para não  se retomar e retornar  ao ambiente escolar do qual se tem repulsa por ser  ruim, nunca ter ensinado e nunca ter educado porque  a prática  foi amoral, anti-ética, ensejou  corrupção  e sonegação dos valores, da leitura, das boas maneiras, do respeito e da estima, serviu de espelho  cujo exemplo  deformou milhares que enchem os ambientes prisionais porque a escola não cumpriu seu papel e o gestor não soube administrar os recursos humanos, materiais e financeiros, inobstante todo preconceito dos dirigentes dos órgãos  responsáveis pela educação , os ínfimos recursos  e a imposição  de projetos sem pensar ou levar em consideração a enorme diversidade cultural, sócio-econômica , financeira e geopolítica deste país continental.

Só a região Amazônia contempla diversas políticas educacionais. O Pará, imenso, mereceria e deveria ter, se se pensasse e praticasse - com recursos bem aplicados através de  fiscalização eficiente - a educação como um processo de desenvolvimento e libertação dos povos, pelo menos, seis áreas (tocantina,  marajoara, tapajônica, bragantina, marabaense, xinguense) onde as práticas pedagógicas  e o material didático tinham que ser diferentes uns dos outros, para que o resultado se mostrasse eficiente e eficaz,  e não é assim, não por falta de gente com capacidade, porque isso, graças a Deus, temos e muitos bom gestores,  técnicos, educadores, docentes, teóricos, e,  sim ,por vontade política.


Por tudo isso, sou dos que crê e confia, tem esperança de que, praticando a pedagogia do desejo do conhecimento e do saber mais, o  discente, no futuro, dirá,  qual o profeta Isaías: “seduziste-me, Senhor e eu me deixei seduzir”. Sim, porque o professor universitário, exercitando a pedagogia criativa e inovadora, motivará o discente a aderir e fazer a sua parte no processo e venha a dizer de forma consciente de que se deixou seduzir por conhecimento  útil à sua vida e que o promove como ser humano que também precisa, quer e merece, como todos, ser feliz, viver numa sociedade  mais humana, mais igualitária e mais fraterna, por que mais justa e mais feliz!!!

Um comentário:

Izete Corrêa disse...

Obrigada por Você e Maria ter nos recebido em seu lar com todo carinho e atenção. Meus queridos alunos e alunas ficaram muito felizes em ver seus trabalhos retratados em seu Blog. Um grande abraço e continue incentivando leitores por meio das obras maravilhosas que você faz.
Izete Corrêa.