João Rosildo Louchardo[1], conhecido em Gurupá pelo apelido de “Pincel”, nasceu no distrito do Mosqueiro, em Belém, mas tem descendência francesa: os avós são franceses. Para sobreviver, conseguiu emprego de motorista na prefeitura, “consertava coisas e pintava paisagem nos azulejos, trabalhando na Fábrica Bitar, de José Rachid Bitar, no Mosqueiro”.
Namorou e casou e veio morar em Gurupá. Tem oito filhos e é artesão que trabalha com mututi, fazendo barcos, em miniatura, que vende durante os dias do arraial de São Benedito.
Num certo dia, o padre Julio[2] mandou chamá-lo e disse que uma goteira fragilizou a imagem do padroeiro de Gurupá, Santo Antonio, que caiu do local e quebrou.
- Você acha que pode consertar?
- Padre, vou tentar. O senhor mande deixar em casa.
Assim foi feito. E João passava horas olhando aquele estrago na sala de sua casa e pensava uma maneira de recuperar, quando o padre lá retornou e disse que uma pessoa faria o serviço em Belém e levou o material.
Tempos depois a imagem retornou. Passado uns dias o padre pede que João Rosildo vá até a casa paroquial e informa que a recuperação não fora feita, ninguém quis e nem soube fazer e a situação permanecia a mesma.
- Você pode consertar?
- Padre, digo-lhe o mesmo da vez anterior: vou tentar. Mande deixar lá em casa que verei que jeito dou.
Não demorou muito, pois João, já sabia como fazer a recuperação.
A imagem do santo padroeiro de Gurupá tem armação de arame revestido com pano, emassado com massa comum e pintado. João procedeu o restauro, colocando também uma espécie de fasquio, de pinho, para fazer a sustentação. Quando padre Júlio foi ver, na casa de João, a imagem, quase morre de susto: estava perfeito, uma beleza!.
Altar com a imagem, do Santo Antonio, restaurada.
O padre combinou que a imagem sairia dali da casa de João, em procissão que rodou as principais ruas da cidade, com muitos fogos, cantos, reza de agradecimentos e foi colocado novamente no seu nicho no altar principal onde fica o santo padroeiro.
João contou que o padre Júlio remunerou bem o serviço de restauro que João provou ter competência ante a desconfiança do padre que levou a imagem a Belém e teve que pedir desculpas ao artista, solicitando fizesse o serviço que ficou a contento.
Estimulado, João passou a fazer imagens de santos, de mututi, notadamente, de São Benedito e vendeu as cinco que produziu, no primeiro ano. Agora, atende por encomenda e tem a ajuda de sua filha Benedita do Socorro Luchardo Ferreira, que encarna [3] as imagens.
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[1] Não há parentesco com o cinegrafista Líbero Louchard, que não era paraense.
[2] Padre Giulio Luppi , italiano, pároco de Gurupá, desde 1972( a paróquia foi criada em 1693), ou seja 40 anos nessa função, prelazia do Xingu.
[3] Pintar.
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