Professores das várias universidades
federais, com mestrado e doutorado, estão se entranhando na Amazônia, cruzando
céus, rios, furos, várzeas, igarapés, campos, cidades, para encontrar
professores-alunos e procurar repassar-lhes conhecimentos que possibilitem ter,
dentro de alguns anos, o ansiado (e hoje obrigatório para que possamos, um dia sonhar em atingir
a ambiciosa conquista da universalização
do ensino superior) curso superior
necessário a quem exerce o magistério, notadamente no ensino infantil e na educação básica e fundamental e que deve ter a
consciência e a responsabilidade de, no mínimo, inocular, no outro, o vírus da leitura, do saber, do ser cidadão cultural,
político, cidadão da (e com) educação
que transforma e dá chance de cada um ajudar no processo de
desenvolvimento da comunidade e de todo o tecido e morfologia social
É uma nova revolução sócio-política que
se agrega à nossa contínua e nunca conclusa Cabanagem, a do saber, da instrução
à um novo momento da sociedade amazônica.
Os professores das universidades, enfrentando,
também as intempéries da floresta, deparam-se com a realidade amazônica que
leram ou souberam, no viés da teoria pelos mestres que os antecederam na missão
de fazer educação na região amazônica. Com essa prática, o professor
universitário sente na pele as agruras do povo, a carência de infra-estrutura,
de pequenos equipamentos urbanos e educacionais necessários à uma vida digna.
Os professores das universidades, nessa
jornada pelo interior do Pará através do programa de formação de professores –
Parfor-, dão de cara com as necessidades básicas da gente parauara, carente de
hospitais, de escolas, de bibliotecas, de livros e de quem possa traduzir o
imenso cabedal de conhecimento empírico que portam e não são aproveitados na escola
numa educação que aproveite língua e
linguagem, literatura e linguística, o que praticam culturalmente: a
fala, o sotaque, o costume, o folclore, as cores com as quais pintam suas casas
e seus objetos: cascos, remos; o material com que fazem o matapi, o abano, a
cadeira, o beiju, as relações sociais e de
sumanaria através do afeto e do
carinho de que todos nós somos e estamos
carentes nesta globalização pós moderna ou de vida líquida como apontam sociologias e filosofias
contemporâneas.
Percebi, nas andanças deste apostolado e
missão que docentes e discentes do nosso vasto interior permanecem usando material didático-pedagógico que vem de fora de sua realidade, que não fala
de sua cultura; que não diz de seu
costume; que não mostra o rosto antropológico
de sua gente. Docentes e discentes do interior permanecem presos a uma grade
curricular que não expressa suas necessidades e anseios numa escola da qual não
querem mais frequentar por que absolesceu, caiu de podre.
Esse povo deseja educação libertadora
inclusive das metodologias e práticas avaliativas, docentes e discentes desejam
e precisam ir a campo para entender a história dos ancestrais, sentir de perto
como se constrói uma canoa, como se esculpe um santo de altar, como tecer paneiro
de meio alqueire, como retelhar casa,
como curar entorse, calafetar barco, como
tirar madeira, mandar pra longe quebranto de criança, como fazer peixe
moqueado, no espeto. É necessário aproveitar saber e cultura do povo para
introjetar os conteúdos necessários ao desenvolvimento da comunidade, ensinar a
fazer política partidária e sair da mesmice de um conteúdo distante, de outra
realidade que professores e alunos não vivem, não compartilham.
Alunos e professores merecem e precisam
de mestres que os ajudem a pensar através das várias leituras de que dispõe a
comunidade, utilizando o lendário e o imaginário da rica região amazônica de
povo pobre e carente de políticas governamentais que contemple assistência
básica (escolas de qualidade, acesso aos bens culturais, hospitais, saneamento,
estradas e etc) sonegadas
sub-repticiamente por falsos
agentes da política-partidária que tem se
mostrado sempre cruel com a comunidade,
talvez por conta do sistema capitalista
selvagem que o fórum econômico mundial, formado pelos “donos do mundo”, os
ricos, tenha acordado para o monstro da ganância e do lucro fácil que se nutre da desigualdade do
povo pobre pra favorecer os mais ricos,
principalmente os de países em busca do desenvolvimento, como é o caso do
Brasil e possamos ter um sistema econômico (e democrático) que produza riqueza e bem-estar para todos,
aqui, incluso, o professore, pois não podemos entender, na mixórdia da
desigualdade, desembargador receber 40
mil de salário mensal e o professor, a
migalha de menos de um salário
mínimo, ou seja, menos de 700 reais (brutos) às suas necessidades, inclusive aquisição de
livros e revistas para manter-se
minimamente informado e atualizado, isso para não comparar o que auferem
mensalmente jogador de futebol,
parlamentar, funcionários dos parlamentos e similares e outros. Tudo porque é o
professor, o responsável pela formação do cidadão. Entenda-se essa contradição
quando se propala que se investe em
educação e se a quer, de qualidade.
Como?
Querem os professores das várias
instituições de ensino mergulhados nessa jornada , a prática docente diferente
daquela que exclui, reprova e faz com que o aluno seja sempre
refém da triste estatística da evasão da escola pública ou privada (mesmice
arquitetônica enquanto espaço físico de mau-gosto que não atrai ninguém para o
seu interior) seja de que rede for, cujos equipamentos nunca funcionam porque alguém retirou peça fundamental, as
carteiras são anatomicamente
desconfortáveis, a iluminação é
precária, calor insuportável, merenda mal preparada, não há espaço verde de lazer, nem biblioteca com bom e atualizado acervo.
Ninguém quer mais o ambiente refletindo gestores e técnicos
angustiados com uma burocracia que os deixa estressados, arrogantes, grosseiros, mal
remunerados, mal vestidos, mal cheirosos , mal amados numa convivência insuportável, todos carentes de atenção, de
carinho, do afeto que dê suporte a uma boa administração que contemple conviver com a diversidade, compartilhar problemas e
soluções, que haja espaço para o elogio,
que elimine a violência e propicie clima
de amor e paz que neutraliza tudo que impeça a prática do ensino motivado,
animador, otimizado .
Todos lutam para não se retomar e retornar ao ambiente escolar do qual se tem repulsa
por ser ruim, nunca ter ensinado e nunca
ter educado porque a prática foi amoral, anti-ética, ensejou corrupção
e sonegação dos valores, da leitura, das boas maneiras, do respeito e da
estima, serviu de espelho cujo
exemplo deformou milhares que enchem os
ambientes prisionais porque a escola não cumpriu seu papel e o gestor não soube
administrar os recursos humanos, materiais e financeiros, inobstante todo
preconceito dos dirigentes dos órgãos
responsáveis pela educação , os ínfimos recursos e a imposição
de projetos sem pensar ou levar em consideração a enorme diversidade cultural, sócio-econômica , financeira e geopolítica
deste país continental.
Só a região Amazônia contempla diversas
políticas educacionais. O Pará, imenso, mereceria e deveria ter, se se pensasse
e praticasse - com recursos bem aplicados através de fiscalização eficiente - a educação como um
processo de desenvolvimento e libertação dos povos, pelo menos, seis áreas (tocantina,
marajoara, tapajônica, bragantina, marabaense, xinguense) onde as
práticas pedagógicas e o material
didático tinham que ser diferentes uns dos outros, para que o resultado se
mostrasse eficiente e eficaz, e não é
assim, não por falta de gente com capacidade,
porque isso, graças a Deus, temos e muitos bom gestores, técnicos, educadores, docentes, teóricos, e, sim ,por vontade política.
Por tudo isso, sou dos que crê e confia, tem esperança de que, praticando a pedagogia do desejo do conhecimento e do saber mais, o discente, no futuro, dirá, qual o profeta Isaías: “seduziste-me, Senhor e eu me deixei seduzir”. Sim, porque o professor universitário, exercitando a pedagogia criativa e inovadora, motivará o discente a aderir e fazer a sua parte no processo e venha a dizer de forma consciente de que se deixou seduzir por conhecimento útil à sua vida e que o promove como ser humano que também precisa, quer e merece, como todos, ser feliz, viver numa sociedade mais humana, mais igualitária e mais fraterna, por que mais justa e mais feliz!!!
Um comentário:
Obrigada por Você e Maria ter nos recebido em seu lar com todo carinho e atenção. Meus queridos alunos e alunas ficaram muito felizes em ver seus trabalhos retratados em seu Blog. Um grande abraço e continue incentivando leitores por meio das obras maravilhosas que você faz.
Izete Corrêa.
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