quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

EDUCAR A FÉ PARA O CRISTÃO SER FELIZ !!!!

ENTREVISTA COM O ARQUITETO CLÁUDIO PASTRO

Salomão Larêdo, escritor e jornalista

É agradável encontrar um povo com fortes raízes cristãs, católicas A beleza “ingênua” e simples do povo e da natureza, mas, sobretudo, a verve do Cônego David Larêdo, Pároco da Igreja da Conceição, permitiram a beleza divina desposar a humana em solo amazônico. Eu só presidi o enlace, conta o arquiteto Cláudio Pastro, dizendo:

ACEITEI O “DESAFIO” DE CONSTRUIR UMA IGREJA NA PERIFERIA DE UMA IMPORTANTE METRÓPOLE AMAZÔNICA, NO BAIRRO DO JURUNAS, EM BELÉM.

Não estamos mais nos tempos do fausto e do poderio da igreja conjugados ao luxo e ao poder soberbo de dominação. Ao se pensar em construir uma igreja é precioso se perguntar: o que é ser cristão e igreja? Tudo mas decorrerá dessa resposta.

Fonte: http://www.portalk3.com.br/Artigo/memoria/artista-plastico-renomado-viveu-parte-da-infancia-em-sao-carlos

O MUIRAQUITÃ, ELEMENTO DA CULTURA AMAZÔNICA ENTRA COMO SIMBOLO DA RESSURREIÇÃO NO PAINEL DA IGREJA DA CONCEIÇÃO.


Parte inferior do painel
Hoje há um grande e forte processo de secularização na igreja e um fenômeno de fundamentalismo – seitas - com uma confusão comercial em tudo isso mais um “sentimentaloidismo” nas expressões pentecostal. Todo esse caos advém de uma falta de cultura religiosa por causa do cristianismo estar longe de suas raízes.

A religião faz parte da essência do homem. Na sociedade atual prevalece o individualismo em suas variadas formas - paganismo, ateísmo, hedonismos − de contracultura e contra humanismo. A característica do cristianismo é comunitária. Aí a religião Católica deve entrar não mais com seus ranços seculares e o pedantismo clerical, mas como sua essência “à volta às fontes”.

DENTRO DA IGREJA DA CONCEIÇÃO HAVERÁ UMA PISCINA − CRIADOURO DE PEIXE − PARA BATISMO −. É CLAÚDIO PASTRO QUEM CONTA:
Batistério ainda em construção
CRIAMOS AO LADO DO EDIFÍCIO-IGREJA A CAPELA DO BATISMO/BATISTÉRIO (SEMPRE PRESENTE NO 1º MILÊNIO) NA FORMA DE PISCINA (CRIADOURO DE PEIXE) EM CRUZ (SE NÃO A ÚNICA CAPELA BATISMAL NESSA FORMA, SERÁ UMA DAS RARAS).

O batismo é parte fundamental na educação da fé (sacramento de iniciação) longe dos mitos, fetichismo, moralismo e modismo social que tem acompanhado esse sacramento.
A FELICIDADE É O ESCOPO CRISTÃO E DAS RELIGIÕES
Fiz, pelo correio convencional, uma entrevista com o arquiteto Cláudio Pastro, paulistano, domiciliado e residente em São Paulo, construtor de templos religiosos pelo mundo e que construiu também a igreja da Conceição, em Belém, no bairro do Jurunas. Artista famoso, arquiteto sacro consagrado, escritor de obras apreciadas é superrequisitado pelo Vaticano. Mas, tem sofrido com a fragilidade de sua saúde:Amigo Salomão, perdoe-me pelo longo silencio, mas o ano de 2011 foi-me tenebroso. Passei por 17 cirurgias, UTI e no mês de setembro fiquei internado com infecção hospitalar. Espero que minhas respostas lhe agradem – é o mais sincero de mim. Quantos as fotos, o secretario do Cônego David, o Adriano, tem uma imensidão de fotos documentários. Bom trabalho e bom e feliz 2012 ! C. Pastro 01 de janeiro de 2012.
Abaixo, a entrevista e você, leitor, pode fruir e usufruir desse importante e profundo conteúdo filosófico, eclesial, bíblico, arquitetônico, vivencial, cultural, artístico e sobretudo, humano de Claudio  Pastro.
SL.: Você, famoso artista paulistano com fama mundial na construção sacra, sobretudo de templos religiosos à igreja católica na Europa e no sudeste do Brasil, como foi aceitar e construir um templo na região amazônica, norte do Brasil, na cidade de Belém e no populoso bairro do jurunas, periferia da cidade, no seio de gente pobre e de limitado grau de instrução e cultura-religiosa?

CP.: Antes de tudo, sou cristão e a arte sacra para mim, é um serviço à igreja, povo de Deus, esposa de Cristo, corpo místico de Cristo. Na Amazônia ou em qualquer lugar do mundo, é ao Cristo que sirvo e ao seu Mistério presente em cada ser que vem ao mundo. Para tanto, pouco importa a condição social e cultural do povo. Arte sacra e ação litúrgica tratam da manifestação de Deus e do anuncio desse mesmo Deus para o povo daquele lugar.
Em 2008 (?) fui convidado por D. Orani João Tempesta, então arcebispo de Belém – Pará, a dar um curso de arte sacra para o clero, arquitetos e pessoas afins. Foi o cônego David Larêdo quem dispôs sua paróquia para esse evento, assim como foi o único padre que aceitou o desafio de executar um projeto seguindo as normas do Concilio Ecumênico Vaticano II. Graças ao padre David, sua vivencia religiosa e sua visão simples, mas profundamente humana e eclesial aceitei o “desafio” desse “acontecimento divino” (a construção de uma igreja) na periferia de uma importante metrópole amazônica.

SL.: Clima quente e umidade de quase 98%, na beira do rio – fartura de água – e no início da maior floresta tropical do mundo, que material usou e como planejou para conjugar beleza, simplicidade, bom gosto e não agressão ao meio ambiente, à natureza humana  e sobretudo  à tradição cultural do homem amazônico ?
CP.: Como sempre, tive que aliar as condições locais ao fato cristão. Hoje, não estamos mais nos tempos do fausto e do poderio da igreja conjugados ao luxo e ao poder soberbo de dominação. Ao se pensar em construir uma igreja é precioso se perguntar: o que é ser cristão e igreja? Tudo mas decorrerá dessa resposta.
Com sutileza e elegância, desejei uma construção “acolhedora” que convide a todos a entrarem, sentirem-se abrigadas, protegidas não só das intempéries externas, mas, sobretudo, “do mal do mundo e suas artimanhas” (“Eis a tenda [morada] de Deus com os homens”. Ap 21,3). Protege do calor do sol e da chuva. As paredes em “pedras porosas” (“vós sois pedras vivas desse edifício espiritual”. 1Pe.2,5); o altar em granito maciço (“a pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular”. Sl. 117,22 e o “altar é Cristo” São Cirilo de Jerusalém, séc. IV) e as portas de vidro; tudo isso permite-nos ver e sentir a natureza alem de revelarem ao homem o que ele é: barro, natureza, poeira cósmica e não homens de shoppings, da sociedade corrupta e de competição. “De longe” lembra-nos “a grande oca” em meio às “demais ocas” do bairro. O edifício é um lugar de união que congrega a todos em torno do altar (= Cristo), rocha firme, estabilidade da nossa vida. O grande painel em azulejaria corresponde às raízes ibéricas e nos dará o encanto, o maravilhamento de um Deus que vem até nós (Jesus Cristo) e o sentimento de fazermos parte dos cidadãos do céu, de um grande cortejo de batizados (homens da terra e do céu). Com delicadeza veremos no painel alguns elementos da cultura local, por exemplo, o muiraquitã, símbolo da ressurreição para os povos primitivos das Américas.
O espaço sagrado cristão (chamado de Jerusalém celeste que desceu do céu naquele lugar) (ver Ap. 21,1-4) testemunha Jesus Cristo e “sua raça conquistada” (ver Ap. 5, 9-10) em meio à Babilônia externa. Revela-nos por sua forma e materiais um lugar de salvação mais que “espelho” das realidades locais.


SL.: Você é um dos responsáveis pelo Santuário de Aparecida e portanto conhece  e vive  há muito tempo a experiência fenomenológica mariana  dentro do sincretismo religioso do  brasileiro, já  conhecia o fenômeno Círio  de Nazaré, em Belém  e onde isso influiu na construção da Igreja de Nossa Senhora da Conceição no  momento em que aceitou o convite do pároco, o cônego David Larêdo?
CP.: Os “fenômenos sincretistas” da simples gente brasileira (Aparecida/círio de Nazaré) são um dado histórico e carregam heranças de um tempo, porém, não são a razão do ser cristão (do evangelho) que é infinitamente maior. Para o pe. David Larêdo e para mim essa consciência é bem clara e nos vem do Concilio Ecumênico Vaticano II que se resume numa frase: “Ad Fontes ”, às fontes e raízes do cristianismo. O edifício cristão, antes de tudo, é escatológico, isto é, testemunham-nos os fins últimos: “quem somos, para que e porquê existimos e para onde vamos”.
SL.: O caboco paraense, mestiço resultante do negro africano, do índio nativo  e do branco europeu , tem  imensa    na  Virgem da Conceição, de Nazaré, a Senhora das águas amazônicas, a mãe  d’água e do rio, gosta de festa de santo e de encantado do rio e da floresta, das beberagens, das danças e festas, foguetes,  vai se ver n esse novo templo ?
CP.: Como já observamos acima, o “templo cristão” não é primeiramente, fator sociológico de expressões locais, mas lugar de evangelização. Na Jerusalém Celeste (o edifício) não há templo (ver Ap. 21, 22), pois, para o cristão o “templo é Cristo”, e, portanto, o templo (espaço) deve nos revelar o Cristo. Num segundo momento (guardando as devidas proporções) poderá ser ocupados por folguedos, concertos... Expressões culturais. Apesar de ser um espaço em honra da Conceição, em primeiro lugar pertence às coisas do Senhor no cumprimento do Mandato Novo ai celebrado “a divina liturgia” (Ministério Pascal ou Santa Missa).
SL.: Qual a importância hoje de religião, de templo, de ser cristão, católico na vida do homem da era da informática que se apresenta individualista, anti-social, cético, descrente e é eminentemente consumista de bens materiais?
CP.: Hoje há um grande e forte processo de secularização na igreja e um fenômeno de fundamentalismo (seitas) com uma confusão comercial em tudo isso mais um “sentimentaloidismo” nas expressões pentecostal. Todo esse caos advém de uma falta de cultura religiosa por causa do cristianismo estar longe de suas raízes.
A religião faz parte da essência do homem. Na sociedade atual prevalece o individualismo em suas variadas formas (paganismo, ateísmo, hedonismos) de contracultura e contra humanismo. A característica do cristianismo é comunitária (igreja = assembléia, corpo). Aí a religião Católica deve entrar não mais com seus ranços seculares e o pedantismo clerical, mas como sua essência “à volta às fontes”. Não é à toa que criamos ao lado do edifício-igreja a Capela do Batismo/Batistério (sempre presente no 1º milênio) na forma de piscina (criadouro de peixe) em cruz (se não a única capela batismal nessa forma, será uma das raras). Assim, o batismo é parte fundamental na educação da fé (sacramento de iniciação) longe dos mitos, fetichismo, moralismo e modismo social que tem acompanhado esse sacramento. Eis porque o espaço sagrado é um espaço mistagógico (educa a fé) com a função de introduzir, conduzir o fiel à verdade de sua fé a fim de que tenha equilíbrio de vida e seja feliz. A felicidade é o escopo cristão e das religiões. A religião cristão-católica gera uma qualidade de vida e bem estar onde a beleza nos remete à magnitude do Evangelho. O lugar religioso é o lugar do encontro do céu com a terra e dignifica o homem, lhe dá esperança, pois o coloca numa dimensão maior, bem acima da sociedade explorada. (“todo batizado é um rei, sacerdote e profeta”).
O lugar (igreja) da expressão religiosa é:
− Lugar de oração, nobre lugar onde quem entra se ajoelha, pois sabe que é criatura dependente do criador.
− “Oásis”, lugar de repouso que permite refazer-se, renascer, sair da dura realidade do dia a dia e voltar fortalecido para enfrentar essa mesma realidade.
− Lugar de encontros onde visualizamos os irmãos, a comunidade e força de um povo.
− Lugar-aula onde recebemos os verdadeiros ensinamentos do Senhor.
− Lugar do “ágape”, da Eucaristia, ação de graças e banquete celestial onde se pode participar, por antecipação, do banquete eterno.
SL.: Quando a construção será entregue à inauguração?
CP.: Penso que no 1º semestre de 2012, pois a inauguração (consagração ou dedicação) está prevista para junho de 2012.
SL.: Como você relata essa sua experiência estética, em Belém, metrópole da Amazônia ?
CP.: É agradável encontrar um povo com fortes raízes cristãs, católicas e, consequentemente, ter correspondência, diálogo dócil e responsável com o desejo pelo melhor. A beleza “ingênua” e simples do povo e da natureza, mas, sobretudo, a verve do Pe. David Larêdo, permitiram a beleza divina desposar a humana em solo amazônico. Eu só presidi o enlace.


        C.Pastro 31 XII 2011 para 2012

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