sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

VOCÊ SABE ONDE E COMO SURGIRAM OS FOFÓS?

Fofós de Cametá - carnaval nativo


Leia, um dos texto do livro "Fofós de Cametá - Carnaval nativo"


FOFÓS

Os mais velhos arriscam calcular que os fofós começaram a aparecer em Cametá, durante a quadra carnavalesca, por volta dos anos de 1930. 

Fofó era sinônimo de gente boba, suja, mascarada. 

José Móia Mocbel, 76 anos, casado, cametaense, informou que naquela época, a cidade era muito pequena e os moradores se conheciam uns aos outros e quem queria brincar o carnaval de rua, procurava usar disfarce e então ia pro mato mudar de roupa – trajavam roupa usada - para não ser identificado e evidentemente que também não podia falar para não ser reconhecido pela voz. 

Logo, a comunicação entre eles era feita de um jeito que a voz saísse meio anasalada, na forma onomatopaica, o povo entendendo que os brincantes pronunciavam algo parecido com fofó, fofó e como eles vinham de dentro do mato e metiam medo para a criançada, os mais velhos diziam às crianças: olha o fofó ! ! lá vem os fofós !! fofó vai te pegar !!! etc. 

Assim se batizou de fofó quem saia no carnaval, brincando na rua e metendo medo à criançada. 

Segundo José, os primeiros brincantes, chamados fofós, usavam uns macacões de cinco cores, em forma de dominós e cheio de guizos e chumbos que farfalhavam ao menor movimento. 

No início apenas os homens brincavam e eram muitos que se divertiam dessa maneira. 

Os fofós passaram a usar máscara feita de papel e cola, artesanalmente, em forma de barro e pintadas. 

Faziam algazarra com apenas dois instrumentos: prato (da banda) e bumbos. 

Um dos primeiros cordões, foi batizado de Fofó do Bruno e congregava muitos homens. 

Para evitar o reconhecimento, os brincantes dos fofós, além do cuidado com a voz, trajavam roupa usada emprestada de outros amigos e se passavam sebo de boi e óleo queimado. Hoje, usam carvão com óleo ou tinta xadrez. 

Os fofós foram se proliferando e mantendo uma certa organização, surgiram muitos, inclusive formados só por mulheres, como era o famoso 

Fofó da Dona Adélia Parijós (esposa do sr. Ruy Parijós). 

Fofó das Professores, na década de 1960, só mulheres, todas usando máscaras. As máscaras eram feitas pelo velho Vigico que produzia as formas com barro trazido da Aldeia dos Parijós. 

Vigico fazia máscaras do satanás, com chifre e tudo, do macaco, todo tipo de máscara que era pra meter medo. Usava papel de cimento e depois pintava as máscaras. 

Fofó dos Bicudos – Bloco dos homens casados da elite, saia meio-dia. 

Havia o Fofó do Cupijó 

Muita gente recorda que havia um Fofó comandado pelo sr. João Nilo de Andrade, que usava roupa preta manga comprida, pintado uma caveira, saíam todos para brincar e nessa hora do meio-dia, entravam nas casas e jogavam azeite na comida, no geral, estragando a comida de muita gente em plena terça-feira de carnaval. 

Fofó unidos da Brasília. 

Fofó dos Carudos, sob o comando de Fabiano Vesgo. 

Fofó da Malária, composto pelos funcionários da Sucam do qual fazia parte o Magalhães que depois fundou o Chaleira. 

Fofó das mulheradas. 

Fofó dos Pretinhos, sob a liderança do senhor Chicão, que trazia os cabeçudos que se reuniam no Praia bar. 

Durante muitos anos o carnaval de Cametá era animado apenas pelos fofos. 

Hoje, lamenta José e outros, não existem mais os mascarados e os fofós estão quase extintos. 

Vejamos o depoimento da professora Graça Corrêa: “Antigamente nossos fofós usavam trajes, suas máscaras eram fabricadas com barro. Faziam as formas com diversas qualidades que eram colocadas jornais para forrar a forma até secar para despreender do barro, eram feitos diversas caras de animais ao sair nas ruas, os homens. 

A partir do mês de janeiro eram tantas máscaras à venda, pois tinha muita saída, de preferência as mais feias, feitas para meter medo às crianças e também para não conhecerem quem era aquele fofó tão feio. 

Quando não usavam máscaras passavam maizena no rosto e entravam no fofo".


Fonte:cametaemfoco.blogspot.com.br


A maisena era muito consumida, todo fofo levava em suas mãos para passar na cara de quem não queria brincar e que estava todo arrumadinho e cheiroso, na praça, e, claro, depois de pegar maisena na cara e no cabelo para ficar todo branco, a pessoa entrava no fofó. 

Eram formados muitos fofós.

Os mais conhecidos: Fofó do Bruno, Fofó da dona Adélia, Fofó da Zezé, Fofó da Mundiquinha, Fofó da Caveira, Fofó do são Benedito. 

Depois surgiram os fofós dos bicudos, era formado somente por homens casados. Cada ano era um tipo de bico, vinham vestidos de camisão, era difícil reconhecer, pois o antigo fofó tinha trajes que não deixavam aparecer nem as mãos, nem os pés. Pessoal que estava apreciando a passagem dos fofos, caso adivinhasse quem era o fofó em destaque daquele grupo, ganhava prêmios. 

Na época de minha avó, ela contava que os fofós chegavam invadindo as casas, lá dançavam e sujavam os que não estavam destacados com máscaras e levavam no cordão para o carnaval, formando assim grandes cordões, faziam caracol, espiral, jogavam confetes e serpentinas. 

Muita gente quando ao longe avistava um grupo de fofó corria para fechar as portas das casas, pois até na panela os fofos comiam o que encontravam, mas era tudo diversão, ninguém ficava zangado. 

Alguns fofos eram acompanhados com orquestras dos nossos antigos músicos da banda“Euterpe Cametaense", regida pelo mestre Cupijó. 

O povo cametaense sempre foi muito amante das músicas que eram elaboradas por compositores da terra. 

Alguns fofós tinham sua música e com seus instrumentos de fabricação doméstica faziam suas melodias e rufavam o tambor forrado com couro de gato, de cobra. 

Vestiam-se de diferentes trajes: paletós, calções, saias, vestimentas de índios, até mesmo pintados de urucu que se chamavam Caras Pintadas, na época do Collor de Melo muitos jovens pintaram em protestos, assim os fofós protestavam quando não aceitavam certar normas erradas nos governos. 

Os fofós levavam seus estandartes percorrendo as principais ruas. 

Quando chegavam em frente ao monumento da Praça dos Notáveis era dançado o Síria, nossa tradicional dança, também no final da festa fazia o povo sacudir e até hoje isto acontece. 

Vale a pena lembrar aqueles velhos tempos e resgatar a cultura porque é a expressão dos valores de um povo buscar as tradições e crenças do nosso antigo fofó dando assim um reconhecimento artístico e histórico. 

Vamos regatar o que é nosso. Vamos valorizar nossa cultura. 

Hoje tudo está mudado é abadá pra todo lado, se não tiver dinheiro, acaba ficando isolado.

Antigamente ninguém ficava só, passava maizena na cara e entrava no fofó.

FOFÓ DA MALA

É um dos que ainda resistem, é organizado por João Paulino Gonçalves Tales(comerciante, cametaense). Começou em 1989, com 8 pessoas que achavam o dia de domingo monótono e como se reuniam na periferia da cidade, dali mesmo resolveram formar um fofó que deram o nome de mala. No fofo todos devem ir vestidos de paletó, gravata, chapéu de sol, saem em fila, levando uma mala velha, e em silêncio, bem arrumados.


                                                 

O líder do grupo é João Paulino. 

No meio da festa, no meio do povão, João Paulo abre o malão velho e de lá sai a surpresa: um gato esfomeado ou um pombo ou muito bombom ou muita pipoca, cada ano muda. 

O Fofo da mala congrega atualmente mais de 600 brincantes, todos vestidos do mesmo jeito e o curioso é que não podem se sujar. Fazem concentração, existe música própria, composta sempre por Mingúe Gaia e é sempre na base da crítica sócio-política.
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Estes textos fazem parte do livro " Fofós de Cametá - carnaval nativo", do escritor Salomão Larêdo. À venda na livraria da FOX, da Trav. dr. Moraes entre Conselheiro e Mundurucus - Batista Campos.


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