sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

O SNAPP E A NAVEGAÇÃO NO BAIXO TOCANTINS

A navegação fluvial no Baixo Tocantins


O SNAPP E AS VIAGENS AO BAIXO-TOCANTINS 
Muitos que neste livro contam suas histórias, memórias e lembranças se reportam às viagens, sobretudo no período das férias, nos navios da linha do Tocantins efetivadas pelo Serviços de Navegação da Amazônia e de Administração dos Portos do Pará (Snapp), depois Enasa.
Procuramos, presentemente, então, algum subsídio sobre essa autarquia e de toda parte havia uma espécie de interdição à informação. Nunca tive tanta dificuldade em obter subsídios. Como o escopo deste livro não é a história da navegação na Amazônia e nem do Snapp, resolvemos inserir aqui o que foi possível amealhar de informes sobre essas viagens e que se tornou um capítulo desta obra e, com isso, espero ser um contributo para que no futuro se consiga uma robusta obra sobre esse importante serviço que o Snapp prestou ao povo do Baixo Tocantins.
Temos que levar a sério a necessidade de olhar o passado para compreender quem somos no presente.
O PRIMEIRO MUNDO

Inúmeras vezes, garoto, viajei com meus pais e irmãos nos navios do Snapp – 3 de Outubro e nas chatinhas construídas na Holanda –, sempre de terceira classe, devido a nossa condição, o que não impedia que me infiltrasse na primeira classe. Parecia outro mundo. As condições eram outras: a comida, os banheiros com chuveiros e vasos, bar com refrigerante e sanduíche, mesas, camarotes, coisas que julgava ser do Primeiro Mundo e inacessíveis para mim naquele momento. A hora da refeição, um ambiente bonito; o refeitório com as mesas de quatro e de seis lugares e a comida servida em pratos separados e a louçaria com as marcas da empresa. Parecia que o pessoal de bordo era de nossa família, mas apenas as pessoas importantes, os ricos, os políticos tinham acesso ao pessoal de comando.
Rolavam muitas histórias. Uma delas era de que o rancho de bordo era previsto para sobrar e ser repartido entre os maiorais; que a tripulação tinha amantes em cada localidade e outras. Vi em algumas casas de ribeirinhos alguns pratos, xícaras e talheres que o pessoal levava de lembrança.

Pelo menos três nomes sobressaíam entre a tripulação: comandante Amorim, Giovanni e o Imediato Aranaí, este, muito popular, amigo. Diziam que era analfabeto. Ele trazia as correspondências e encomendas e a gente ia buscar a bordo. Ele pedia para ler o envelope para ver se aquela era mesmo a encomenda da pessoa a sua frente.

No mínimo, estes homens merecem ter os nomes lembrados pelo tempo de convivência nos navios, pelo bem que representavam para nós que vivíamos isolados, distantes da capital ou da civilização.

O Snapp foi um sonho de um tempo bom e bonito que não volta mais. Com o material a seguir, recordemos um pouco esse tempo.


A PRESSA

A propósito de alguma prosa referente aos meus trabalhos nessa linha e afins, o professor Danúzio Pompeu, por e-mail, teceu o seguinte comentário, cujo fragmento publico abaixo com o título de: A Pressa.

A pressa
“... Agora que tudo acabou... Tudo mudou... Não há vapor... não descem os marabaenses... os coletores de castanha estão ou mortos ou aposentados...Não há peixe nos rios, só pescadores recebendo um seguro-defeso onde não há mais o que defender. Você tem que escrever... Sugiro, piçico um marreteiro, daquele que lograva o pessoal no regatão. Enfim... você pode descrever o que foi e que agora a pressa da viagem faz com que vamos e queiramos voltar no mesmo dia da capital.
Tinha Botafogo, 3 de Outubro... Os Rodrigues Alves “levaram o farelo”.

Tinha os navios que o Nelson mandou afundar e o Gerson Peres deu continuidade, mas nada disso salva Cametá da decadência o povo é que não vê perspectivas
de melhorar – é um querendo ser mais ligeiro que o outro...”.


CRIME POLÍTICO?

Depois de 40 anos comandante de navios dos Snapp, Raimundo Eulálio Amorim solta sua indignação: Por que fecharam o Snapp? Onde estão os navios, o acervo e a
memória?
O Brasil tem que se conscientizar de que na Amazônia somos uma civilização fluvial, disse o escritor paraense Benedicto Monteiro, em entrevista à revista Caros Amigos, edição de novembro de 2006.
Dizemos todos que a Amazônia são muitas amazônias tal a biodiversidade e sua gente é diferente, com culturas diversas, falar variados e costumes diversos e suas águas, suas muitas águas, sua bacia hidrográfica, seus mistérios, seus encantamentos, seu lendário e seu
imaginário e muito mais.

Tanta diversidade assim fez o ex-parlamentar Benedicto Monteiro dizer na entrevista à revista que somos uma civilização fluvial, o que nos torna uma região diferente, e explica:

“... as rodovias lá, ligam rios, saem do nada e vão para o nada. Todo potencial fluvial permanece inexplorado, nem sequer temos linhas fluviais regulares.

Getúlio foi o único estadista que teve visão para a Amazônia. Ele criou o Banco da Amazônia, a Sudam, estatizou toda a infraestrutura, os serviços públicos.

E comprou uma frota de navios na Holanda para suprir os ramais fluviais. Eram transatlânticos que ficavam em Manaus e faziam a linha Belém-Manaus e outros portos do Nordeste e do Sul.

Navios menores atendiam ramais secundários. Acabou!

Acabou o que representou enorme atraso para os estados amazônicos, com prejuízos incalculáveis.



A COMPANHIA DE NAVEGAÇÃO E COMÉRCIO DO AMAZONAS

A Companhia de Navegação e Comércio do Amazonas, uma iniciativa do Barão de Mauá – Irineu Evangelista de Souza –, começou a funcionar em 1852 com embarcações a vapor objetivando maior rapidez no transporte e exportação da borracha. Recebia subvenções do tesouro Imperial, embora fosse uma empresa privada.


Essa situação peculiar – ciclo da borracha – atraiu capital estrangeiro à Amazônia e então em 1872, os ingleses fundaram a “Amazon Steam Navigation Company Ltd.”.

Dois anos depois, a empresa inglesa adquiriu a Companhia de Navegação e Comércio do Amazonas, bem como outras duas companhias, eliminando a concorrência e garantindo o monopólio do transporte fluvial.

Permaneceram, no entanto, as subvenções do governo brasileiro, interessado na manutenção e incremento dos serviços de transportes na bacia hidrográfica do rio Amazonas.





Em 1940, o governo federal nacionalizou a companhia e, juntamente com a prestadora de serviços portuários – Port of Pará –, criou o Serviço de Navegação da Amazônia e Administração dos Portos do Pará (Snapp). A Snapp, no ano de 1967, foi desmembrada e surgiram duas companhias: Companhia Docas do Pará e a Enasa (CDP) Empresa de Navegação da Amazônia S/A.

Sucateada e mal administrada, a Enasa passou para o controle do estado do Pará no final da década de 1990.

Recursos prometidos para a restauração da empresa não vieram. Então o governo do Estado do Pará decidiu liquidar a empresa no final de 2008.



CIVILIZAÇÃO FLUVIAL

Então, se o Brasil quiser entender a Amazônia, tem que começar por entender que somos uma civilização fluvial. Sem entender isso, não prospera nada que se faça pela Amazônia. Todas as cidades amazônicas estão na beira dos rios. Todas as pessoas moram perto dos rios, vivem dos rios, sobrevivem dos rios.

Olhe o mapa hidrográfico do Pará e verá que é um emaranhado de rios, sem falar nos igarapés. Belém era cheia de igarapés. Chegaram a planejar torná-la a Veneza brasileira, o que seria, além de belíssimo, excelente para a cidade.

Mas vieram os rodoviários, aterraram tudo, encanaram, e aquelas coisas todas que hoje são grandes problemas.


Poderíamos estar andando de barco em Belém. E nem a ligação óbvia por via fluvial para Icoaraci e Mosqueiro temos mais. Querem fazer do Pará um estado rodoviário, é um absurdo!

Antes fosse transporte ferroviário, mas a única estrada de ferro que tínhamos, acabaram com ela. O que nos resta é o transporte aéreo, e caro. A Panair do Brasil começou lá com os hidroaviões, pois tinham campos de pouso naturais nos rios. Não temos mais hidroaviões!

Se você não tiver a visão de que o homem é parte da natureza, que a natureza é a “teia da vida”, que Capra está desvendando, e que somos uma civilização fluvial, de hidrovias, um Estado trançado de rios e igarapés, como você entenderá o Pará, a Amazônia? Nunca vai entender!

É por não entendermos a Amazônia que a estamos entregando à exploração vil pelos estrangeiros. O ferro de Carajás, o alumínio, tudo para os estrangeiros...”.


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Saiba mais lendo o livro "Terra dos Romualdos País dos Maparás"


O Livro “TERRA DOS ROMUALDOS PAIS DOS MAPARÁS” , lançado recentemente e as demais obras do escritor e jornalista paraense SALOMÃO LARÊDO, podem ser encontrados nos seguintes locais:

Em BELÉM:

1 - Livraria da Fox – trav. dr. Moraes, 584, entre a av. Conselheiro Furtado e Rua dos Mundurucus – Batista Campos, Tel.: (91) 4008-0007. Ou pelo site:
http://www.foxvideo.com.br/.

2 - Livraria Newstime: Pátio Belém e Estação das Docas.

3 - Revistaria do Alvino: no Yamada Plaza e na Praça da República

Em CAMETÁ

1 - Livraria do Campus da UFPA , no bairro do Guamá Trav. Pe. Antonio Franco, 2617 – Matinha
Tel: 91 – 37811182 cameta@ufpa.br

Em MARABÁ

1 - Fundação Casa da Cultura de Marabá – Folha 31, Quadra Especial Lote 01 – Nova Marabá Tel: 94 – 33224176 – fccmaraba@hotmail.com

















































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