sábado, 22 de junho de 2013

O QUE TU DESEJAS ALCANÇAR COM A ARTE? A EXPRESSÃO MAIS FIEL DO MOMENTO PRESENTE!!!!, DIZ A FAMOSA JULIA PASCALLI EM ENTREVISTA ESPECIAL AOS NOSSOS ESPAÇOS. LEIA, URGENTEMENTE!!!!

Salomão Larêdo, escritor e jornalista

Julia é importante e famosa artista nacional, atuou no filme de Hector Babenco e outros e recentemente passou uns dias em Belém e aproveitou pra lançar seu interessante livro “Índio Sabido Sim” (Leia o prefácio no final da entrevista) versão livro impresso e áudiolivro, à venda na Livraria da Fox e nosso blog não perdeu a chance de uma entrevista com ela para fruição de nossos leitores e porque Julia tem o que dizer, sabe e diz com competência, simplicidade e muito amor. Mas quem é Julia?



"SINTO MUITA SAUDADE DO COMBU, COM TODAS AS PESSOAS, HISTÓRIAS, LEMBRANÇAS CIRCULANDO E ME FAZENDO QUERER PULAR PRO BARCO, LÁ NO PORTO DA PALHA E BALANÇAR NO COMEÇO DO DIA E NO FIM DA TARDE, TORCENDO PRA MARÉ A FAVOR".

PARÁ /CHINA /CORÉIA DO SUL – SINCRONICIDADE E EXPRESSÃO NA ARTE
Em prol de cravar júbilo nos corações dormentes!!!


A interatriz Julia Pascali desenvolve pesquisa em artes integradas desde 1985, com trabalhos nas áreas de teatro-dança, dança-poesia, vídeos coletivos, instalações, intervenções artístico-antropológicas em várias comunidades e países, com integração de linguagens artísticas e criação coletiva. Viveu entre os índios, especialmente os Nambiquara, os Enauene-Nauê e Maias, trabalhou na China, na Coreia do Sul e estudou no Japão. Seus trabalhos apresentam uma síntese desta dupla influência, indígena-oriental. O princípio gerador do ritmo e do movimento se manifesta em espetáculos performáticos, instalações, obras abertas, desenhos, vídeos e cantos, de caráter coletivo e participativo. Dentro da pesquisa Sincronicidade e Expressão, coordenou várias oficinas de teatro e eventos de integração comunitária. Hoje, é professora junto à Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás, Doutora em Artes pela Universidade Estadual de Campinas, com a tese "Em Prol de Cravar Júbilo no Corações Dormentes".

DOIS DEDOS DE PROSA

Assim rolou o inicio de nosso papo em Belém, numa manhã de sábado, com Maria Julia Pascali, em companhia da escritora Marinilce Coelho, amiga comum, eu e Maria Lygia, na Livraria da Fox e se desenvolveu por e-mail que damos um aperitivo:

Julia, Salomão e Marinilce


"Que linda mensagem!

E que perguntas interessantes!
Vão me ajudar a refletir enquanto respondo. Por enquanto podes olhar minha pagina na UNICAMP
(www.iar.unicamp.br/alunos/juliapascali/index.htm) e minha tese testemunho que esta on line (Em Prol de Cravar Jubilo nos corações dormentes) e se tiver vontade e fôlego meu currículo na plataforma Lattes (Maria Julia Pascali).

Foi muito agradável estar com vocês naquela manhã! Que a luz que senti ao redor de vocês perdure e se espraie ao redor trazendo bênçãos a todos e tudo.

Abraços carinhosos para você e Maria Lygia.

Julia Pascali".

Julia Pascali e Maria Lygia Larêdo

  



ENTREVISTA

 1 - Qual - e desde quando - tua ligação com Belém e com a Amazônia e por quê?


BRINCANDO NOS CAMPOS DO SENHOR


Cheguei em Belém no fim de 1989. Fui trabalhar na preparação de atores e coreografia indígenas do filme Brincando nos Campos do Senhor (NR: filme dirigido por Hector Babenco). Fui convidada por estar desde 1985 envolvida com a vida entre as comunidades indígenas, especialmente da região do Vale do Guaporé, Sul de Rondônia, noroeste do Mato Grosso.

Como atriz fui convidada internamente a mergulhar na alma brasileira, na minha própria forja. No dia 2 de fevereiro saltei de São Paulo capital pra Salvador pra pedir licença a Iemanjá: “Mãe querida, permita-me conhecer os parentes índios, para servir melhor ao meu povo”.

Assim dois dias depois caminhava pelas grandes avenidas de Brasília em direção a FUNAI com intuito de obter um “visto” pra visitar os Enauenê-Nauê. Sai de lá com a benção do amigo Silbeni e iniciei minha nova vida junto ao povo Nambiquara.



Já na primeira visita surgiram muitas histórias que fazem parte do livro INDIO SABIDO SIM. Além dos Nambiquara, minhas andanças me levaram a conhecer os Minki, Irantxe, Pareci, Riskbaktsa e Enauenê-Nauê. Mais tarde os Xicrin do Bacajá, pro outro lado da Amazônia. E ainda populações indígenas no México e ao redor de Taos, nos EUA, onde participei, inclusive de um Pow Wow, importante encontro e festival indígena norte americano. Estive com indígenas do Canadá e convivi com uma eskimó.

 
VIVER POR ESCAMBO E IMENSA SOLIDARIEDADE


Assim, quando o filme estava terminando, eu e meu companheiro Jean Pierre Barreto Leite, compramos um barco típico da Amazônia e o transformamos num barco-casa-teatro, que por afeto do meu querido ganhou o nome de Julia. Com o Julia em construção nos mudamos para a Ilha do Combu e lá fizemos casa, nos unimos à família da Professora Maria e do Careca e seus filhos se tornaram meus afilhados, alunos, companheiros. Naturalmente minha casa se transformou no espaço de criatividade e apoio pedagógico para todos da ilha. Aprendemos a viver por escambo e com imensa solidariedade. Comer açaí com farinha e peixe, pescar no fim da tarde, usar ourisa nas roupas, navegar com o casquinho pelas ruas/rios e igarapezinhos, ouvir os cantos da Sumaúma .... (suspiro!)

Como professora da UFPA coordenei pesquisa de intercâmbio entre os alunos e os moradores do Combu, construindo pequenas peças teatrais baseadas nas historias que os sábios da ilha nos contaram e apresentadas sob a luz de latas improvisadas na escola. Nossas oficinas se estenderam até o Guajará e a Boa Vista, Ponta de Pedras, Curralinho e mais....

Até hoje sinto muita saudade do Combu, com todas as pessoas, histórias, lembranças circulando e me fazendo querer pular pro barco, lá no Porto da Palha e balançar no começo do dia e no fim da tarde, torcendo pra maré a favor.


2 - Como está teu trabalho hoje?

Sai de uma aula de muita luz, "agoriquinha meminho", como dizia minha querida mamãe. Junto aos alunos do primeiro semestre de artes cênicas da UFG, coordeno, entre outras, a disciplina de Voz para Ator. Trabalhamos como mergulhar na organicidade da expressão vocal através da ativação, mobilidade e plasticidade do mágico ponto de aglutinação, algum lugar na consciência que concentra nosso estar a partir de outra perspectiva. Além de vários exercícios e treinamento técnicos vivenciamos criações em duplas, e invenção de uma língua. Ontem pela manhã, ainda em Pirenópolis, participei de um cortejo religioso, caminhando e rezando sobre as pedras das ruas da cidade, compondo o quadrado de varas, a modo de andor, que conduz os reis e rainhas do Juizado de São Benedito. A tarde, antes de ir pra Universidade, passei pelo Cavalhódromo, no camarote da família Lobo, e apreciei os mascarados e cavaleiros desenvolvendo suas coreografias sobre cavalos.


SENTIR A VIDA COMO ARTE



Coordenei ainda as aulas de Música para Ator e História do Cinema. Orientei um trabalho sobre Performance e Instalação e conduzi aula de Interpretação para atores e cantores. Ao descansar estudei música e canto e cuidei do envio e distribuição do livro INDIO SABIDO SIM.

Ligar tudo isso? Sentindo a vida como arte, fazendo cada coisa por inteiro e a seu tempo. Sincronicidade e Expressão é o nome de minha pesquisa em artes integradas. Esta inspiração surgiu no contato e reunião interna das culturas oriental e indígena; com foco e treinamento interior mergulhar na espontaneidade da vida.

Hoje desenvolvo vivências e percursos de artes integradas e participativas, promovendo jornadas interativos, que envolvem todas as pessoas, em contato com todos os reinos. Este trabalho já foi desenvolvido em São Paulo, Pirenópolis (Prêmio Interações Estéticas - MINC) e Coreia do Sul (Prêmio Residência Artistica do governo coreano) e continuamente, em versões varias, se manifesta na chácara Canto Guardian em Pirenópolis. (vivenciamos uma caminhada troca de saberes, mergulhando na mata noturna, com um grupo de 20 pessoas, entoando cânticos, reverenciando as plantas, córrego e trilhas, louvando o planeta, o universo e a humanidade solidária).


3 – Além do teatro, da dança, tu escreves e publicas livro e viestes lançar algum em Belém? Fala um pouco desse trabalho.

 
INDIO SABIDO SIM está sendo preparado desde 1985. Neste ano iniciei meu contato com o povo Nambiquara e registrei as historias que ouvi e vivi numa cadernetinha simples, com caneta bic. Como cheguei na aldeia com um único livro que falava de Zen budismo, estas duas abordagens do viver, indígena e oriental, me penetraram concomitantemente. Assim ao mesmo tempo eu lia e vivenciava a vida em sua inteireza, abdicando de todo o supérfluo, visível e invisível. Mais tarde, entrei em contato com os contos Zen budistas e senti a mesma revolução que as historias Nambiquara me causaram. Ano a ano fui me dedicando a transformar a linguagem das historias, me inspirando nessa semelhança e procurando guardar o ambiente informal e vital da transmissão oral, das tardes vividas na aldeia ouvindo as narrativas de origem do povo Nambiquara.

4 – Qual a novidade que vens desenvolvendo e quando vais divulgar?

Tenho um amigo que diz: você sempre tem uma carta escondida na manga! Acho que ele tem razão. Minha inquietude me leva sempre a desvendar novas expressões. No momento me preparo para fazer uma exposição de desenhos a nanquim e digitais na Associação Nipo Amazônica, se o projeto se confirmar, com oficina interativa de desenho coletivo.

 
OS SEGREDINHOS? CONTO A SEU TEMPO

Em Goiás desenvolvo vivências na mata. Neste ano fizemos uma diurna, no dia 2 de fevereiro, e outra noturna no dia 18 de maio. Netas jornadas procuramos comungar com a natureza, com os ritmos, com o silencio, com a arte, com os companheiros. Todos são convidados a participar, de 3 a 88 anos. Me dedico também aos alunos, levando-os a reconhecer, estimular, desenvolver e até deslocar o ponto de aglutinação, encontrando um expressividade corpo-voz em conexão intima com a presença total. Existem mais uns segredinhos que conto a seu tempo.


5 – O que tu desejas alcançar com a arte?

A expressão mais fiel do momento presente, onde a pessoa se torna cosmos!

 
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MAIS INFORMAÇÕES SOBRE A CARREIRA DE JULIA PASCALI PARA CONHECIMENTO DO LEITOR (RETIRADO DO GOOGLE)


Julia Pascali, interatriz e performer é pesquisadora em artes integradas e participativas. Sincronicidade e Expressão, título de sua pesquisa, promove o encontro dos saberes indígena e oriental na condução de vivências holísticas integrando teatro, dança, música, artes plásticas, fotografia e vídeo, treinamentos de profissionais e trabalhos comunitários participativos.

É professora na Escola de Música e Artes Cênicas da UFG (GO).

Inclui em sua formação estudos com Klauss Viana (Consciência do Movimento), Kazuo Ohno (Butoh), Mestre Liu (Tai Chi), Lucia Lee (Artes Corporais Chinesas), Dr. Zuang (Liang Gong), Noburo Yoshida Sensei (Teatro Nô) e Umewaka Sensei (Teatro Nô). É performer, diretora, propositora (inspirada em Lygia Clark), interatriz (elucidada por Paulo de Laurentiz) contadora de histórias, escritora, preparadora de atores ("Brincando nos Campos do Senhor", "Vera", "Um Cego que Gritava Luz"); tem conduzido palestras, cursos, instalações e performances solo e coletivas no Brasil (Paraíba, Brasília, Mato Grosso, Goiás, Pará, São Paulo) e no exterior (China, Itália, Estados Unidos, Israel, Canadá e México). É coordenadora do Projeto de Extensão da UFG Sincronicidade e Expressão: Teatro Participativo junto a crianças, jovens e idosos em situação limite na cidade de Pirenópolis (GO).

"Depois de viver entre alguns grupos indígenas brasileiros e com artistas orientais (Japão e China), minha visão sobre vida e arte ganhou nova dimensão. Na vida comunitária original na há separação entre vida, educação e arte. Quando uma pessoa conta uma história, ela faz uso de todos os recursos que estão ao seu dispor, um risco na areia, um grito primal, uma pedra caindo e, neste momento, não há distinção entre passado, presente ou futuro, a voz e o gesto daquele que conta é a mesma voz do ser primeiro e sua expressão. Assim, também, vivendo a cada dia em contato com todos os reinos da natureza (vegetal, animal, mineral, humano e estelar) em estado expandido de percepção, faço uso de tudo que está ao meu dispor e proponho ações criativas com o intuito de convidar a todos e a tudo ao deslumbramento cósmico."

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Prefácio de ÍNDIO SABIDO SIM

Leitor(a),Você tem em mãos um livro especial, elaborado por uma pessoa também muito especial. Julia Pascali, autora deste Índio sabido sim, é professora/doutora de Teatro na Universidade Federal de Goiás e, portanto, tem formação acadêmica. Participa de mestrados e doutorados, escreve artigos e livros, especialmente na área de Artes. Mas é também atriz de nível internacional (contracenou e estudou na França, Estados Unidos, Japão, onde se especializou em Butoh), encenadora, produtora de textos, de performances, vídeos etc. Mas além de acadêmica, Julia ainda é sábia, no sentido daquela sabedoria adquirida pela experiência: é adepta da atitude holística, da sincronicidade homem/natureza/espírito/sociedade. Seus escritos, atuações, pronunciamentos, desenhos e pinturas (porque também é artista plástica) procuram traduzir sempre a beleza inefável e a harmonia que nos circundam. Pessoa espontânea, delicada e generosa, vive pela tranquilidade e pela paz/união de todos em todos os sentidos.



Este seu livro, Índio sabido sim, é precioso: é um livro sobre histórias Nambiquaras, nação indígena do Vale do Guaporé, para quem viver e sobreviver em meio à cultura branca tem sido, como ela diz, a grande “prova dessa gente sábia, alegre, simples e peregrina”.

É um livro objetivo e escrito em linguagem semipoetizada, bem ritmada e com leitura aprazível, de efeito.

Suas histórias se promulgam em várias espécies de narrativas: as semibiográficas, que remetem à experiência da autora na aldeia indígena e com os amigos da cidade; as narrativas ouvidas do relato de um índio, pai Lídio, recontadas pela narradora; e outras narrativas de origem ou fundação desse povo indígena, procedentes de tempos imemoriais, de relatos coletivos.

As primeiras, as semibiográficas, compõem o Livro I e são avivadas pelas vozes de amigos em diálogo prosaico – pretexto narrativo – e em conversas com o leitor, para quem a autora espalha algumas informações sobre a nação Nambiquara (modos de viver, de conviver e de narrar) e alguns conselhos, relembrando a figura sábia do narrador das tradições orais.



Os textos desse Livro I são semipoetizados, elaborados através de uma linguagem coloquial e de descrições singelas, mas ternas, como: “Fomos chegando numa pequena maloca bem baixinha, uma casinha redonda feita de paus finos e coberta com folhas de palmeiras” – em que os adjetivos apropriados, desmetaforizados, se circundam de diminutivos, e em que a escolha de “paus finos” e “folhas de palmeiras”, ambos termos de cujo significado faz parte o seu aspecto retilíneo, contrastam com o “redondo” da maloca “baixinha”, demonstrando a delicadeza da construção da moradia e da impressão também delicada que esta passa.

Algumas interferências no tempo narrativo dessas histórias semibiográficas complexificam o texto dessa parte. São pequenas historietas encaixadas em outras histórias maiores, como a do “encontro harmonioso” entre as duas mulheres – a narradora e Julia, a índia -, quando aquela ganha as pulseiras desta, contada a nós, leitores, dentro da história maior da ida à casa de Papai-Grande ; da mesma sorte se configuram os tempos de uma narrativa no tempo presente, compartilhada em roda de amigos (e que tem por finalidade justificar o texto escrito) e as histórias de um tempo passado que nos são contadas nessa roda.

Dentro dessas histórias, ouve-se a voz narrativa de pai Lídio, o índio amigo, contando vivências próprias, modos de relacionar-se com a natureza, modos de amar a natureza.

Já as histórias do Livro II têm outra perspectiva: extremamente objetivas e atentas à história que narram, descrevem muito pouco e se dizem, todo o tempo, por frases curtas, coordenadas no texto integral e não nos períodos, sem se importarem com o seu final ou com atingir um ponto clímax. Revelam uma voz indígena anônima, nua, despreocupada com a coerência. São narrativas substantivas, não adjetivas, isto é, uma espécie de voz coletiva que fala dos mitos essenciais e substantivos, coletivos, da nação Nambiquara. Como formas de explicação de mundo, esses mitos revelam origens de artefatos, da diversidade da vida natural, das diferenças das vozes e cantos da mata, dos bichos, das árvores, a biofísica da natureza, enfim. Histórias antigas cujos finais se perderam e que mantêm no seu miolo o essencial dos mitos de fundação de um povo e seu entorno.

Mas há mais: dessas histórias presas na oralidade, há as ilustrações – as da autora e as dos pequenos índios, crianças e jovens Nambiquara, recolhidos entre 1984 e 1986: Marcelo, Rosinha, Jair, Joel, Ari, Reolinda, Helena, Odair, Ademir e Regina.

Os desenhos indígenas falam por si. São (como todo desenho de criança) simplificados, mas detalhados, descritivos. Alguns são extremamente naturalistas, como o da onça, por exemplo; outros, ainda naturalistas, são mais complexos, induzindo a uma relativa perspectiva, como o do peixe; outros mantêm mais de um ponto de vista, como o da perereca, cujas patas são vistas de cima e a face (semelhante à de um peixe) é vista de perfil. Ilustram as histórias e complementam-nas.

As ilustrações da autora são estilizações abstratas e induzem sobretudo ao movimento, à liberdade e à fluidez, devido às nuances das cores cinza, preta e branca, seus tons e meio tons. Lembram os traços orientais, sobretudo os japoneses, feitos a pincel sobre papel na forma de traço contínuo. Comentam as narrativas e a delicadeza de sua escrita semipoetizada, como já dissemos, mas também a delicadeza da fala objetiva das narrações indígenas e o universo integrado da nação Nambiquara. São comentários absolutos do que expõe (aconselhando) sobre o mundo natural, livre e distante do mundo corrido e sufocante da vida urbana das grandes cidades: uma filosofia mais zen, mais espiritualizada e em comunhão com a natureza, especialmente o ar e a água, pelo movimento que expõem.

Por último, ainda o livro tem outras dimensões, especialmente acadêmicas. São algumas delas: a didática, pelos valores que promove (a defesa da vida natural, espontânea e espiritualizada); a antropológica, na recolha dos mitos e símbolos fundadores de povos indígenas; a histórica, pelo registro escrito de narrativas nativas e vocábulos indígenas que podem se perder na oralidade; a hedonista, pelo estilo de narrar de maneira objetiva, mas poética; e outras mais.

Isso significa que é um livro que se prestará a várias finalidades: sala de aula, contação de histórias, teatro (o livro em si é quase uma pequena peça que se prestaria a uma leitura pública ou a um recital, especialmente se for acompanhada de música), performances etc., além da pesquisa, porque, enquanto registro de histórias de um povo, permitirá trabalhos sobre práticas (usos e costumes, modos de fazer indígenas), representações, interpretações de mitos, cruzamentos de imaginários etc. de um universo distante e próximo de todos nós, que é o universo indígena.

Essa a nossa apresentação do livro. Como dissemos, um livro precioso, que vai contar também com uma edição em audiolivro e uma tradução para o inglês.

Leia-o com gosto e atenção, leitor, porque Índio sabido sim. Albertina Vicentini

(04.04.2013)
                                                                                                                                                                                                         
FICHA TÉCNICA

Título: Índio Sabido Sim

Autora: Julia Pascali

Ilustrações: Crianças Nambiquara e Julia Pascali

Editora: PUC Goiás

Formato: 17 x 27cm

Nº de páginas: 96

ISBN: 978-85-7103-831-8 

MAIS INFORMAÇÕES...


A interatriz, doutora e professora da Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás (UFG), Julia Pascali, lança o livro bilíngue Índio Sabido Sim - Histórias que vivi e ouvi junto ao povo Nambiquara, no dia 31 de maio, durante a 5ª Festa Literária de Pirenópolis, com sessão de autógrafos no Lounge da Livraria (Praça Flipiri), das 17:30h às 19h.

Com versão em áudio, tradução para o inglês e destinado a leitores de todas as idades, o livro, todo ilustrado em tons de cinza e preto, narra histórias do amazônida povo Nambiquara, uma nação indígena do Vale do Guaporé, a oeste de Mato Grosso e sul de Rondônia.

A autora frequentou esta nação entre 1985 e 1987 como atriz pesquisadora. Ao revelar que contava histórias para o seu povo despertou em papai Lídio (seu tutor na aldeia) sua veia de contador, e, a partir daí, todas as tardes se transformaram em rodas de contação de histórias, reunindo amigos, familiares e crianças. A autora foi anotando tudo numa cadernetinha. Durante estes 28 anos, as histórias, que lembram os contos Zen, foram sendo lapidadas. Hoje elas inspiram, divertem e se revelam também como documento histórico para estudiosos e para o próprio povo Nambiquara.

Guiada pela visão de consciência indígena em que a solidariedade irmana a todos os reinos e pessoas, onde os diferentes convivem sem hierarquia, todo o processo de criação do livro foi colaborativo desde o contar das histórias, reunindo a aldeia ao redor do papai Lídio e da autora, passando pela edição, revisão, tradução, chegando até o design gráfico que reuniu colaboradores de norte ao sul do país.

ÍNDIO SABIDO SIM responde a várias vocações. Uma experiência poética, estética e artística que trata tudo com alegria, espontaneidade e humor. Bastante indicado para todas as escolas que, sob a lei 11.645, precisam promover obrigatoriamente o estudo das culturas indígenas. Os interessados nos estudos da diversidade da cultura brasileira, antropólogos, literatos, linguistas, artistas, etc., encontram referências inusitadas. Os estrangeiros, com a versão em inglês, podem ter uma visão mais ampla e diversa do Brasil. As pessoas interessadas em aprofundar o contato com as línguas portuguesa e inglesa, podem se exercitar, contando com o áudio como apoio. O audiolivro atende também aos deficientes visuais, promovendo a inclusão. E, por causa do timbre doce da voz da autora, as narrativas curtas em áudio se mostram benfazejas para relaxar e ninar.       



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