domingo, 23 de dezembro de 2012

ENTRE CURRUPIOS, CANOAS, ROQUE-ROQUES, ONDE FICOU MEU PRESENTE COM O QUAL TANTO ME ALEGREI ?

Salomão Larêdo, jornalista e escritor

Numa garrafa de guaraná alegria, comprado na casa da Viúva Vale, em Igarapé-Miri, tio David e vovó Ana colocavam uma estampa de santo amarrada com uma fita em laço caprichado e esse era o presente que ganhávamos, lá na Vila do Carmo, quando despertávamos no dia de natal e estava embaixo de nossas redes. Bebíamos comedidamente para fruir gostosamente aquele refrigerante-presente, natural, coisa rara, era um presentão porque guaraná era só em ocasiões festivas. Depois íamos ver o presépio que ajudamos a preparar lá na igreja. Areia branca e flores do campo, pedras, saco de cimento amassado e as imagens, além de folhas que cheiravam dias e dias.


Paçoca de gergelim, quebra-queixo feito de gergelim e mel de cana, cana cortada como feixes de lenha, o banho na ponte do Carmo com os botos nos pajeando e nesse dia, mamãe preparava galinha de cabidela, uma delícia!
E cantávamos, felizes, o “adeste fidelis”. A “Carmelita”, do papai, no porto, as velas vermelhonas e azuis abertas pra secar, que visual lindo e meu pai sorrindo caminhava pro banho no igarapé e nos levava e íamos comendo beijos –de-moça com garapa.


Os brinquedos que circulavam na Vila do Carmo da minha infância eram carrinhos feitos de lata de óleo pajeu, currupios feitos de papel, roques-roques, canoas e lanchas de miriti,porque de miriti eram tecidas as paredes, portas e janelas das casas. Uma vez a Ocirema ganhou uma boneca feita de mututi, a Adalcinda um pacote de bom-bons no concurso de canto e mamãe dize que tinha que repartia “ com teus irmãos”, e o Zeca, fazia a festa com um pandeirinho feito com tampinhas de refrigerante e eu , estava rico, cheio de pelhudas ( carteiras de cigarro que a gente juntava na rua, no tempo da Festa do Carmo e virava em nossa imaginação, dinheiro, que denominávamos, pelhuda). Uma vez o presidente Getúlio Varas mandou-nos, porque meu pai era funcionário público da Estrada de Ferro de Tucuurí, pra mim, um revólver de espoleta e para minhas duas irmãs, bonecas de porcelanas e para o Zeca, pandeiro bonito, acho que o Zeca (Laredo Neto) tinha que gostar mesmo de música, ele que é um pesquisador musical e adora rock. O Abrão, que nasceu em Tucurui, ainda era muto criança e seu presente era o nosso amor e carinho ao irmão caçula. Ah vida feliz! Leia mais nos livros “A Família Larêdo” e “ Grandes Lábios de Belém”.


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