segunda-feira, 6 de agosto de 2012

NEMIAS RODRIGUES

É PROFESSOR NO INTERIOR DA AMAZÔNIA E CONTA EM SUA HISTÓRIA QUE OS ALUNOS ENFRENTAM MUITAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM, MAS, “TENHO ME ESFORÇADO PARA OFERECER-LHES UMA EDUCAÇÃO DE QUALIDADE, COMPROMETIDA EM FORMAR CIDADÃOS CONSCIENTES, CRÍTICOS, ATIVOS E RESPONSÁVEIS PARA ATUAR NA SOCIEDADE.


LECIONO AS DISCIPLINAS LÍNGUA PORTUGUESA, ARTES E EDUCAÇÃO FÍSICA.
PELO FATO DE ATUAR HÁ QUATRO ANOS COM LÍNGUA PORTUGUESA, FUI ESCRITO NO PARFOR- PROGRAMA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E CONSEGUI REALIZAR UM DOS SONHOS QUE ERA ESTUDAR NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ”.

NEMIAS SONHA SER PROFESSOR NA UFPA.
ELE CHEGA LÁ. VEJA POR QUE.

Nosso blog apresenta hoje um pouco da história de vida do professor Nemias Lopes Rodrigues, que é natural de Oeiras do Pará, filho de Carlos Santos Rodrigues e Maria Benedita Lopes Rodrigues, casado com Eliene de Jesus com quem tem três filhas: Eyshila Carolian, Carla e Nyelda Kelly. Ele mesmo conta:
“Nasci no rio Cararí, um afluente do rio Aracaerú na casa do meu avô no município de Oeiras do Pará. Sou filho de Carlos Santos Rodrigues e Maria Benedita Lopes Rodrigues. A minha mãe teve problemas graves durante o parto. Por causa de dificuldade da época, ela não pôde ser removida para um hospital, pois não havia meio de transporte adequado, mas pela misericórdia de Deus ela sobreviveu.
Até aos treze anos de idade morei no interior, onde estudei da alfabetização a 3ª série do antigo 1º grau. Nesse período repeti dois anos a 3ª série, não por falta de aprovação, mas pelo fato da professora (que era minha própria mãe) não ter formação para lecionar a 4ª série, ela possuía apenas a 3ª série completa, era considerada “professora leiga”. E, também por meus pais não terem condições de manter-me na cidade para continuar meus estudos.
Durante esse período eu levava meu tempo entre a escola (para não perder o ritmo dos estudos, com a esperança de um dia conseguir uma formação) e ajudar meu pai, junto com meus irmãos, nos trabalhos de roça, extração de madeira e açaí.

Aos quatorze anos, pelo esforço de minha avó paterna (a quem sou muito grato) consegui vir para a cidade cursar a 4ª série. Morávamos apenas nós dois numa humilde casa de madeira coberta de palha, não tinha água encanada, nem energia elétrica. Sobrevivíamos com o salário de aposentadoria de minha avó e com a ajuda dos meus pais. Para ajudar nas despesas da casa eu me acordava às quatro horas da madrugada para vender pão, enfrentando chuva, água grande de inverno e, às vezes até mesmo água na cara de algumas pessoas que não gostavam que batessem cedo da manhã na porta da casa delas.

Pelas férias lazer, passeios? Nada disso! Trabalho duro na roça para fazer a farinha e no lago pra tirar madeira para poder ajudar o meu pai e meus irmãos. Passei por momentos difíceis, um deles foi quando fraturei um braço trabalhando na serraria, pois o trabalho era necessário para que pudéssemos comprar algum roupa nova.

No ano em que iniciei a 7ª série consegui emprego de balconista, trabalhava durante o dia e estudava a noite, as coisas começavam a melhorar. Através do Projeto Gavião minha mãe conseguiu concluir o Ensino Fundamental passando de professora “leiga” para regente e, consequentemente o Ensino Médio passando assim a ser professora normalista, podendo assim dar mais suporte nos meus estudos e de meus irmãos. Eu, com muita dificuldade, consegui conciliar trabalho e estudo e concluir o Ensino Fundamental e, por conseguinte o Ensino Médio (Magistério).
No ano seguinte à minha formação fui agraciado com uma vaga de professor temporário numa escola da zona rural, na mesma localidade onde nasci e vivi parte de minha vida. No ano de 2001 fiz meu primeiro concurso público, onde tive a felicidade de ser classificado e continuar trabalhando na mesma escola. Agora com emprego fixo, pude prestar vestibular numa universidade particular, fui classificado e com muita força de vontade e dedicação concluí o Curso de Pedagogia.
Tive a oportunidade de trabalhar durante seis anos na zona urbana. Durante esse tempo atuei como professor de várias disciplinas como: Matemática, Educação Física, Estudos Amazônicos, Ciências, Artes e Religião. Vale ressaltar que todas essas disciplinas que lecionei mesmo não sendo formado em nenhuma delas, aceitei pelo fato de o município não dispor de profissionais suficientes para atender a demanda do município e, sobretudo, pelo desafio a mim colocado como um educador comprometido com a educação do meu país e pela busca de mais conhecimentos.
Em 2008 prestei mais um concurso público municipal, agora para o cargo de professor-pedagogo, nível superior, no qual fui classificado e designado para uma escola da zona rural, para atender a carência do município, pois o concurso só tinha vagas para a zona rural.
Nessa escola, atuei nas séries iniciais do ensino Fundamental e na 3ª e 4ª da EJA- Educação de Jovens e Adultos-, como professor de Língua Portuguesa. Enfrentei novos desafios, pois nessa localidade as crianças enfrentam muitas dificuldades de aprendizagem, mas tenho me esforçado o máximo para oferecer-lhes uma educação de qualidade, uma educação comprometida em formar cidadãos conscientes, críticos, ativos e responsáveis para atuar na sociedade.
Há dois anos voltei para a primeira escola onde trabalhei, hoje leciono as disciplinas Língua Portuguesa, Artes e Educação Física. Pelo fato de atuar há quatro anos com Língua Portuguesa, fui escrito no Parfor* - Programa de Formação de Professores e conseguir realizar um dos sonhos que era estudar na Universidade Federal do Pará.
Como uma coisa chama outra, o sonho agora é um pouco mais audacioso: chegar um dia a ser professor da Universidade da qual hoje sou aluno. Sei que para isso vou ter que lutar muito, mais isso é de menos, já estou acostumado, pois tudo que consegui até hoje, não foi nada fácil, as dificuldades são imensas, mas com muita força de vontade tenho superado todas “.

*Aluno do 3º semestre do PARFOR/UFPA , curso de Letras , no polo de Baião, Baixo-Tocantins.


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