O livro está à venda, em Belém, na Livraria da Fox dr Moraes e na loja virtual da Editora EMPÍREO: http://loja.editoraempireo.com.br/
Postado pelo Prof. Joel Cardoso no Facebook no dia 18 de Fevereiro de 2016
OLHO DE BOTO
Salomão Larêdo
Romance homoamazônico
CASAMENTO ENTRE HOMENS
SITUAÇÃO ÍNTIMA CONFIDENCIAL
ACONTECEU EM CAMETÁ.
O que dizer de Salomão Larêdo?
É nome sobejamente conhecido no contexto cultural de nosso estado. Autor de dezenas de títulos, é um batalhador incansável pela divulgação da produção artística local, principalmente a relacionada à área das Letras.
Paraense de corpo e alma, poeta, contista, romancista, cronista e muito mais, Salomão Larêdo, personalíssimo, sem fazer concessões, é dono de um estilo inconfundível.
Numa gentileza deste meu amigo sempre muito especial, recebi, ainda no final de 2015, a sua mais recente produção: “Olho de Boto”.
Por conta das mil e uma atividades em que nos envolvemos (muito além do que damos conta com tranquilidade) não pude, como gostaríamos, nos dedicar à leitura imediata do livro. Só agora pudemos nos debruçar no texto e - com vagar - nos entregarmos ao prazer desta leitura.
Viagem única pelos encantados amazônidas, ler Salomão Larêdo é, antes de mais nada, muito prazeroso. O autor brinca com seu instrumento de trabalho, a palavra... E por manejá-la já há muito tempo, serve-se dela como ninguém. Brincando com as palavras, promove aproximações sonoras entre elas que descambam para o campo sintático e semiótico, interferindo significativamente neles. Brinca também com a história, ou com o que restou ou se sabe dela... Brinca com os costumes, com os preceitos, com os preconceitos, com o já dito e aceito, com o folclore, com a cultura. Para lê-lo, há, naturalmente, que se entrar no clima do texto, na não linearidade narrativa e deixar-se ir.
A cada fragmento (ora despretensiosa ora primorosamente construído) um susto, uma perplexidade, uma dor, uma diversão, um sobressalto, mas, também, por outro lado, um reconhecimento (de si, do outro), uma identificação.
Com uma forte carga de visualidade, o romance de Larêdo embebeda-se de realidade... Realidade, ela mesma, demasiadamente complexa. Entretanto, o autor adverte, logo no início da narrativa, que se trata de uma obra de ficção (embora livremente inspirada em fatos reais). Mas de que real? de que realidade? No permanente jogo entre vero e inverossimilhança, sabemos que só a ficção pode dar conta da realidade e disto estou convencido. Lemos e criamos e visualizamos. E o texto, estonteantemente ágil, segue solto, segue livre, segue provocante, explorando nossas fraquezas, nossos ímpetos de medo e coragem, nossas decisões e indecisões, mostrando-nos que, para sobreviver, temos que aprender a conviver com os opostos, com as contradições, com a ilogicidade do nosso dia a dia, com as diferenças, enfim, com o outro... temos, talvez, que conviver com sistemas cuja lógica certamente não é a nossa, mas, nem por isso, menos autêntica... isso, no entanto, não descarta - quando em vez - possibilidades harmônicas de encontros. Quase uma advertência: ou aprendemos a conviver com isso tudo, ou não sobreviveremos. Aí, perguntamo-nos: o que é o real? Onde os seus limites? O que é o surreal, o irreal? Em “Olho de Boto”, o texto, ou melhor, os muitos textos, mosaicos do cotidiano, dando voz ao local em permanente (e irreverente) flerte com o universal, pintam, no conjunto da obra, uma VIA CRUCIS (Cruzes!), com traçados, que, aos poucos, vão nos proporcionando uma saborosa (e quase sempre complexa) visão do conjunto.
Presente, o amor em outras formas de realização (de consumação), em outros possíveis espraiamentos (desdobramentos)... Tendo como eixo uma relação homoafetiva, as narrativas se entrecruzam incessantemente. ECCE HOMO!... Temos, de há muito, ciência de que o ser humano é inexplicavelmente contraditório. Talvez seja essa a nossa essência: a capacidade de, para sobreviver, conciliar opostos. O outro, esse ser que – ao nos olhar - nos confere especularmente autenticidade, também, não raro, nos provoca estranhamentos, não aceitação. Numa eterna Torre de Babel, embora ansiemos por conciliação, por entendimento e harmonia, não nos entendemos. Explicar-nos, então? Por quê? Para quê? Para quem? Impossível. Só nos resta nos narrarmos. E é isso que encontramos em “Olho de Boto”: narrações inusitadas, saborosas, algumas com forte carga de violência, de agressividade, de sexualidade, de erotismo... A vida como ela (não) é... Sem fazer concessões, temos a vida como não gostaríamos que ela fosse... mas que – feliz ou infelizmente – assim é...
Recriação de ditos, chavões, lendas, diz-que-me-diz-que... Fontes: a boca do povo... e a voz do povo é a voz de Deus, reza o dito popular... O povo pode até aumentar... mas ninguém vê fumaça onde não há ou houve fogo...
Oswaldianamente, lembrou-me, quanto à sequenciação de cenas na formatação narrativa, um pouco “Matintresh o mito da Matinta Perera – Antígona exAmazônica” (2003). Óbvio que nessa obra a intencionalidade, as motivações, os contextos, eram outros... Mas a forma de narrar, que delícia! E também – por que não? – dos contos-poemas de “Trapiche - aerotextos” (também de 2003).
Mais maduro, senhor pleno do seu ofício, na trilha dos mestres do passado, o autor mostra, narra, expõe... não toma partido... antes, questiona, instiga, provoca e, claro!, surpreende... Cabe ao receptor elaborar juízos. E isso é muito, muito bom...
Beijos n'alma Salomão Larêdo...
Com carinho, sempre..
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