quarta-feira, 24 de junho de 2015

“DAS IGUARIAS, DA LADAINHA E DA DEVOÇÃO A SÃO JOÃO" DA FAMÍLIA PALHETA, NA VIGIA. (Excerto do texto de autoria da profa. Maria do Carmo Palheta Alves)

 “ [...] Nos anos de 1960, fazia uma bela manhã de junho, quando chegou a nossa casa, na cidade de Vigia, a tia Maria Domingas. Vinha com seu vestido cheiroso, limpinho, de tamanco nos pés e, nas mãos, em uma tosca sacola de pano, trazia a imagem de São João Batista. Segundo ela, era a única herança que podia deixar para o Beneco (nosso saudoso Marajá), seu sobrinho querido, a quem disse, na ocasião da entrega: “Como sou pobre e nada de valor possuo para deixar pra ti, meu sobrinho, te trouxe este Santo que me é de grande estima e devoção, para que tu e toda a tua família – enquanto puderem – façam no seu dia, 24 de junho, uma festa regada a mingau, paçoca, aluá, tacacá, fogueira e tudo o que a quadra junina pede. [...]Nossa família começou a celebrar a data de 24 de junho, em louvor a São João. Era o ano de 1968. Era uma noite de muitas orações, cânticos, ladainhas, renovações de pedidos, agradecimentos e muita, muita alegria. [...]Beneco, como ela chamava nosso pai Benedito, arrumava a casa, enfeitava com bandeirinhas, montava a fogueira. Acendíamos fogos, soltávamos balões, espocávamos foguetinhos e tomávamos o banho de cheiro. Tudo pra comemorar a noite de São João. Até “passávamos” de comadre umas das outras – um costume de quem é do interior que significa passar por cima da fogueira, dizendo: “Santo Antônio disse, São Pedro mandou”. Foram muitas as comadres desde então! [...]As comidas eram as mais variadas. Toda a família ajudava. Um fazia a panela de mingau de milho, outro pilava o arroz para o tradicional “arroz doce” salpicado de canela mulata, e outros enfeitavam a casa e a rua. Nossa avó Mulata também ajudava e nosso avô Tomaz, que tinha a melhor quitanda da cidade, trazia a macaxeira para o bolo inigualável que minha avó fazia no forno à lenha do fogão de barro. Da cozinha da casa deles, saíam as mais deliciosas iguarias, perfumadas com cravo, cominho, banha de porco e muito carinho. [...] Desde então, a devoção a São João se perpetua em nossa família ! [...]” ( Fonte: “Das Iguarias, da ladainha e da devoção a São João, autora: Maria do Carmo Palheta, Belém, 24 de junho de 2014)


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