segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Valorizando o que é nosso!!

O melhor da literatura brasileira produzida no Pará! 2.608 LIVROS DO ESCRITOR PARAENSE ILDEFONSO GUIMARÃES AGORA FAZEM PARTE DO ACERVO DA BIBLIOTECA PÚBLICA ESTADUAL ARTHUR VIANNA E FORAM DOADOS PELA FAMÍLIA DO INTELECTUAL, SOCIALIZANDO O ACESSO E AMPLIANDO A POSSIBILIDADE DE LEITURA

Salomão Larêdo, escritor e jornalista

Escritores, artistas, diretores, gerentes, funcionários e público em geral testemunharam a doação da biblioteca particular do escritor paraense Ildefonso Guimarães, feita pela família do escritor à Biblioteca Pública Estadual Arthur Vianna e recebida pelo presidente da Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves, o cantor e compositor Nilson Chaves, no patamar da biblioteca, no Centur, em Belém do Pará, numa cerimônia singela e plena de emoção, na manhã do dia 05 de dezembro de 2014.


ESCRITOR CRIATIVO, TALENTOSO MESTRE E ARTISTA DO TEXTO 

A pedido de Nilson Chaves e representando os escritores do Pará, falei duas palavras destacando a importância do escritor Ildefonso Guimarães, mestre do texto narrativo, que leciona - e ensina didática, pedagógica, literariamente e com magistral categoria engenho e arte e sobretudo gostosa criatividade adquirida em sua vasta experiência de leitor e observador do mundo e na condição de jornalista e escritor de escol - a quem ler seus livros, como se constrói o gênero conto e a técnica para se escrever romance, enaltecendo o desapego da família doando os livros do pai, gesto dos mais significativos e importantes para a sociedade amazônica carente de livrarias, de livros, de bibliotecas, de espaços de leitura e de leitores, tendo como decorrência dessa lacuna, índice ínfimo de leitores e por isso, não valorizamos o que é nosso e desconhecemos autores significativos que fazem o melhor da literatura brasileira produzida no Pará, o que é muito lamentável e por isso, a cerimônia se revestia de alto significado cultural, que nos deixava felizes e emocionados e diminuía um pouco o apagamento aos escritores paraenses.


AUTODIDATA APAIXONADO PELOS LIVROS, LEITOR COMPULSIVO

Pela família, falou o filho mais velho do escritor, Ildefonso Pereira Guimarães Junior, dizendo que “ a família do escritor Ildefonso Guimarães tem a satisfação de formalizar neste ato, a doação para a FCPTN do acervo bibliográfico que compõe a biblioteca particular do nosso pai. É um patrimônio muito especial, muito querido para nós. Através dele o escritor Ildefonso Guimarães alcançou o domínio pleno da escrita. Formou-se por conta própria estimulado pela grande paixão pelos livros. Foi um leitor compulsivo. Um autodidata. Sua biblioteca foi nascendo aos poucos e na medida que lhe chegavam as informações adquiridas pela leitura, multiplicavam-se suas idas às livrarias e o prazer incontido de ler. Virou um exímio contador de estórias. Os livros que agora passam a fazer parte do grande acervo da Biblioteca Arthur Vianna, são a resultante de um significativo processo de transformação de um ser humano que nasceu muito pobre no interior do Pará. Sem ajuda material e financeira de ninguém, possuindo somente a 5ª Série do antigo curso primário, agarrou-se a única porta que se abriu e ingressou aos 17 anos como soldado do Exército Brasileiro, abraçando a carreira militar onde permaneceu até se reformar na patente de capitão.


LIVROS – TESOURO DE VIDA

Nessa condição, constituiu família e se permitiu comprar seus livros, o maior tesouro de sua vida. Essa grande paixão levou-o a se transformar num talentoso e impressionante mestre da palavra. Através dela aprendeu o espanhol na fronteira do Brasil com a Bolívia onde serviu como radiotelegrafista. Mais tarde, já no posto de sargento e servindo em Óbidos-PA, conheceu uma senhora francesa, Dona Elisa Plat, fez amizade com ela e conseguiu estudar a língua com tamanho prazer que resultou falar e escrever com grande desenvoltura o francês. Arriscou-se mais tarde com o Inglês aqui em Belém. Chegou a frequentar cursos particulares, não alcançados, entretanto, o mesmo domínio que obteve com o espanhol e a língua francesa. Tudo isso porque amou profundamente seus livros. A leitura foi o oxigênio que lhe permitiu viver até aos 85 anos na plenitude de todos os seus sentidos.
É esse acervo precioso, de valor inestimável para nós, filhos do escritor, que confiamos agora à guarda da Biblioteca Arthur Vianna, com a convicção de que neste espaço os livros do nosso pai permanecerão vivos, servindo à causa da cultura e aos que vêm aqui em busca do saber”


CENTUR – O ESPAÇO DOS ESCRITORES E DE TODOS OS ARTISTAS

O superintendente da FCPTN, Nilson Chaves, emocionado, sublinhou a importância da cerimônia revestida de amor e do carinho dos familiares de Ildefonso Guimarães , dos artistas presentes e dos servidores da fundação que, para Nilson Chaves “ são dedicados e fazem o melhor para que o Centur seja realmente um espaço cultural que acolha a todos, sem exceção, mas que aproxima cada vez mais os escritores e todos os artistas que devem mesmo sentir o Centur como a casa de vocês. Sei que ainda falta fazer muito, mas estamos trabalhando, todos, empenhados, para isso”. E frisou a importância de Ildefonso para a cultura paraense, lembrando que a biblioteca recebia com muita responsabilidade, os quase 3 mil livros que enriqueciam o acervo da biblioteca e que muitos leitores irão usufruir desse tesouro.

HABILIDADE COM AS LETRAS

O termo de doação foi lido pelo mestre de cerimônia, Paulo Fonseca, artista paraense, ocasião em que informou que “ Ildefonso Guimarães nasceu no dia 23 de janeiro de 1919 em Santarém. Com apenas 1 ano de idade foi morar em Óbidos, cidade pela qual o escritor nutria grande apreço. Cursou até o quinto ano primário e aos 18 anos entrou para o exército. O autor foi um verdadeiro autodidata, tendo aprendido espanhol e francês longe das salas de aula. A habilidade com as letras garantiu sua atuação na área jornalística por quase 30 anos. Escreveu para diversos impressos, dentre os quais “A Província do Pará”. Eleito para a Academia Paraense de Letras, tomou posse da cadeira de número 5 em 24 de março de 1966.Desde muito cedo apaixonado por literatura, tornou-se romancista e contista. Entre os livros publicados ao longo de sua carreira, podem ser destacados: “Histórias sobre o Vulgar” (contos) 1961; “Senda Bruta” (contos) 1963; “Os Dias Recurvos” (romance) 1984 e “Coisas da Maçonaria” de 1987. Os dois primeiros renderam ao escritor o Prêmio Samuel Wallace Mac Dowell da Academia Paraense de Letras, em 1961 e 1963.



GRANDEZA E DESPREENDIMENTO
A família do escritor Ildefonso Guimarães, em um gesto de grandeza e desprendimento, está doando à Biblioteca Pública Arthur Vianna 2.608 obras que compunham a Biblioteca particular do escritor, formada durante toda a sua vida de intelectual, escritor e acadêmico. Os livros, que a partir de agora estarão à disposição de estudantes, pesquisadores etc, enriqueceram sobremaneira o olhar e o fazer literário de Ildefonso.
Entre as obras que compõem a coleção, encontram-se volumes autografados por importantes escritores como Dalcídio Jurandir, Bruno de Menezes, Haroldo Maranhão, Ferreira Gullar, Rachel de Queiroz, Dias Gomes, Mário Quintana, Jean Paul Sartre, Simone de Bouvoir e outros.
A coleção se constitui em uma preciosa fonte aos estudiosos interessados em conhecer a obra e o autor; e vem incorporar-se a outros importantes acervos da Biblioteca Arthur Vianna como Haroldo Maranhão, Ruy Paranatinga Barata, Magalhães Barata, Gama Malcher, Paes de Carvalho, entre outras”.( texto e fotos: Salomão Larêdo)

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