domingo, 29 de setembro de 2013

JAIME BARROSO LARÊDO – CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DE UM HOMEM QUE FOI MUITO FELIZ !!

Salomão Larêdo, escritor e jornalista

Neste domingo, 29 de setembro de 2013, comemoramos o centenário do tio Jaime Larêdo. Filho mais velho de Manoel Larêdo da Costa e Almerinda Biósia Barroso Larêdo, nasceu a 29 de setembro de 1913, no sítio São Vicente – Vila do Carmo-Cametá –Pará. Faleceu em 14 de maio do ano de 2001, aos 87 anos de idade. Sua mulher, a tia Nenê – Urbana Wanzeler Larêdo, seu grande amor, com quem conviveu por 64 anos, faleceu anos depois. Aos dois, prestamos, nesta oportunidade homenagem especial pela lindura de amor que viveram por mais de 50 anos e pelo exemplo de amor que deixaram a todos nós, parentes, amigos.



Na condição de seu sobrinho, afilhado e amigo de Jaime Larêdo, escrevi o texto abaixo, na lembrança que fizemos e distribuimos por ocasião da missa de seu sétimo dia de falecimento e aqui, repetimos o texto, comemorando o centenário de seu nascimento, porque é uma homenagem que queremos prestar, como memória afetiva, a quem muito fez pela família, comunidade do Trombone, Vila do Carmo e Cametá.

JAIME LARÊDO NA CASA FELIZ

Estou certo de que Jaime Barroso Larêdo foi um homem feliz em sua passagem por esta terra e essa condição não escondia, pois até o nome de sua casa de comércio se denominava “Casa Feliz”.


E, na verdade, a casa de Jaime Larêdo, era feliz!

Começou cedo a trabalhar com Ivo Gaia e depois montou seu próprio negócio, um armazém sortido no rio Trombone, distrito do Paruru, em Cametá e deu o nome de “Casa Feliz”, onde viveu feliz por muitos anos com a esposa Neném. O casal não teve filhos.


O estreito rio abrigava casarão cercado de frutaria, batelões, plantas, trapiche e toda exuberância da floresta amazônica. Ali, bando de periquitos e papagaios alegravam a vida entre saracuras e arassaris, vazantes e enchentes de ternuras, nas manhãs e tardes de tertúlias do imenso sorriso de Jaime Larêdo.

NA VANGUARDA DA TECNOLOGIA
Nesse palácio da estima, recebia - com tia Neném -, carinhosamente, os familiares e amigos que apreciavam seu espírito vanguardista que adquiria tudo que era novidade para estar sempre atualizado e cercado do conforto da vida moderna. Foi o primeiro a ter geladeira (a querosene), na década de 1950 naquela região, máquina de moer carne, de fazer macarrão, aparelho de frisar cabelo para minha madrinha trabalhar numa saleta; adquiriu rádio transistor para ouvir o noticiário para onde se encaminhasse, gravador e walk – tolk, motor de popa  (famoso Archimedes 10/12), motor de centro e tantos outros.

Ah, as férias nesse armazém de afeto, pleno de irmãos, primas, sobrinhos, afilhados, agregados, empregados, batalhão de gente a ocupar mesa de metros e metros de fartura de iguarias nos almoços e jantares de horas e horas: vinho de açaí fresquinho e grosso, peixe de toda espécie há pouco puxado, limão apanhado da árvore naquele instante, farinha saborosa, frutas e frutas. Foi ali, sim, que consolidei, no exemplo, o amor à leitura e à escrita. Foi na “Casa Feliz”, de Jaime Larêdo que enamorei-me do lendário de minha região, que entupi-me do imaginário e municiei-me para escrever os livros de hoje. Ah! O cheiro do araçá na Casa Feliz, o odor de sementes, o deslizar gostoso nos corredores, escalar a montanha de sacas com pivides de cacau, o banho gostoso, a maré invadindo o terreiro e a vida em seu começo. “Ah! Que saudades que tenho, da aurora da minha vida, da minha infância querida, que os anos não trazem mais...”os versos de Casimiro de Abreu, um dos poetas de que tio Jaime gostava e recitava.

GRANDE LEITOR E O PRIMEIRO A TER BIBLIOTECA NO INTERIOR CAMETAENSE
Auto-didata, era voraz leitor, lia tudo e escrevia, colaborando com artigos bem argumentados nos jornais de Cametá e enviava charadas, palavras cruzadas e frases suas que eram publicadas na “Folhinha do Coração de Jesus”, por muitos anos.


No seu “livro de notas diversas”, que me passou, Jaime Larêdo registrou alguns “livros que tenho lido”, que iam de Shakespeare, a Coelho Neto, de James Joyce, passando por Alexandre Herculano, Machado de Assis, Érico Veríssimo, Drumond e em sua “modesta biblioteca” relação imensa de bons autores.


A necessidade de seus conterrâneos, ribeirinhos e no meio da mata, fê-lo estudar e atendê-los na área do Direito, Política, Medicina, Química, Agronomia, etc.


Prescrevia, curava, orientava, recomendava e estudava no indicador terapêutico, guia da medicina caseira, primeiros socorros, nossa horta, manual do criador, veterinária de seu povo sem assistência de absolutamente nada, no hinterland paraense dos anos 1950/1960.


MULTIPROFISSIONAL, ATUALIZADO, MODERNO

Foi tio Jaime, numa operação melindrosa, quem despregou a língua do meu querido irmão José, usando moeda que afiou e desinfetou, mamãe entre temerosa e confiante e o sucesso é a voz linda que o Zeca possui. Minha mãe – e todos nós – é grata a todos os seus primos e em particular ao tio Jaime que, como outros tios, nos amparou, defendeu e tanto nos ajudou, no momento em que seu irmão Milton e meu pai, trabalhava longe, em Tucuruí.

José Larêdo (Zeca), na casa de Jaime Larêdo, em Vila do Carmo

No rio Trombone, foi fabricante de massas, sabão de cacau, vinho, óleos, doces e outros. Comercializava balata, ucuúba, andiroba e nunca deixou de ouvir através do rádio à pilha seca, a novena de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, reunindo empregados e parentes em frente ao oratório, numa oração fervorosa, comunitária.

LIDER NATO, POLÍTICO HÁBIL

Candidatou-se e foi eleito vereador diversas vezes à Câmara Municipal de Cametá onde chegou a ser seu Presidente.


Estabeleceu-se novamente em Vila do Carmo no ano de 1967 onde trabalhou muito em prol da comunidade e chegou a ser presidente da Festa do Carmo, ele que era líder comunitário.


Homem de caráter firme, exemplo de retidão, honradez, honestidade, seriedade sempre foi leal e fiel a palavra dada. Homem de paz e afável fraternidade, cultivou enorme fé e imenso amor a Deus e devotado amor filial à Virgem do Carmo.


O que sempre avultou em Jaime Larêdo – um sábio que conviveu entre nós - foi seu espírito conciliador, amigo, apaziguador.

HOMEM CULTO, AFETUOSO, SIMPLES, AMIGO, E FELIZ

Homem culto, sintonizado com os acontecimentos mundiais, viveu de forma simples, mostrando que o valor reside nos bens espirituais e por isso sempre procurou atender e receber a todos, ajudando, aconselhando, alegrando-se com o sucesso do outro.

Maria Gonçalves, Nenê e Jaime
Larêdo, no Museu Goeldi, Belém, 1950/60.

Imenso amor nutria por sua família. Para cada parente, um carinho especial, aos que moraram com ele, a afabilidade e a disponibilidade de tudo que possuía.

A palavra, que sabia usar, era só para expressar o bem. Ofender, nunca.


Amealhou, por 87 anos, cultura, amizade, carinho, ternura, afeto e o respeito de todos, porque a todos respeitava, consciente de que todos são filhos de Deus. No final de sua jornada terrena, viveu ainda mais simples, modestamente, até, desprovido dos bens materiais que teve.

Mas, na certeza de que a Casa do Pai é a morada da felicidade eterna, Jaime Larêdo continua feliz porque está na sua “Casa Feliz”, também no céu, agora, definitivamente, a casa de Jaime Larêdo, por toda a eternidade, aquele que soube ser feliz porque amava a todos e queria todos, felizes!


Descansa em paz, querido e amado tio Jaime e recebe um carinhoso e terno beijo do seu sobrinho, afilhado e amigo: Salomão Larêdo – Belém, 20 de maio de 2001.




2 comentários:

José Cláudio Martins disse...

Linda homenagem Salomão.
Gostaria de te perguntar se não tens uma foto da casa feliz.
se tens por favor posta.
a primeira vez que nós nos encontramos foi na livraria fox,onde levei meu livro terra dos romualdos pra vc autografar.e ali te disse que li o familia laredo.
olha.vou te falar me encantei com a historia do teu tio e padrinho jaime laredo.
por conta disso,ano passado em minhas férias,atravessei do porto grande o tocantins e fui conhecer o lugar da casa feliz.não tem nada lá,apenas plantações e uns tocos das estacas do tropiche.
mas não importa se nada tens,o importante que o cenario daquilo que escreveste no familia feliz e no remos de faia está vivo em minha memoria.

José Cláudio Martins disse...

obrigado salomão por tornar meus passeios em nossa querida cametá muito mais emocionante.graças as leituras dos livros familia laredo e remos de faia.