terça-feira, 19 de março de 2013

"PARA QUE OS SIMPLES SONHEM CONTIGO"

MINHAS SUGESTÕES AO PAPA FRANCISCO

Salomão Larêdo, escritor e jornalista.

Latino-Americano e cametaense, arvoro-me a fazer-lhe alguns pedidos-sugestões:


1 - Nomeie mais cardeais para o Brasil. Sugiro: Belém, Manaus, Rio Branco, Palmas, João Pessoa, Aracaju, Recife, Olinda, Campo Grande, Florianópolis. Pra Belém, sugiro o título de cardeal post mortem a dom Alberto Gaudêncio Ramos, paraense que foi arcebispo desta igreja de Belém, há mais de 30 anos e nomeie Monsenhor Nelson Brandão Soares, Cardeal, por uma questão de justiça, por seu amor à igreja de Belém que defende de modo intemerato e intimorato.

Monsenhor Nelson Brandão Soares com o Papa

2 - Restaure a Teologia da Libertação: o povo precisa de consciência crítica, social e política, que, ao lado da consciência social e religiosa, promova as mudanças necessárias a uma vida digna de ser humano, evitando que fique gesticulando inconsciente e batendo palma sem saber a quem e pra quê.

3 -Restaure o canto de tradição popular que o povo não esquece, como por exemplo, o “hino à Nossa Senhora da Conceição”, que tem na letra do refrão, o seguinte recado: “para que os simples sonhem contigo”, pois a igreja é formado por todos e para todos, sobretudo aos simples, humildes, excluídos.

4- Retire as mitras que os bispos usam. É coisa feia e antiquada. Aliás, que haja modéstia nas vestes. E nos gestos, muitos bispos estão se julgando e agindo como autocratas, autoritários, prepotentes, sobretudo com o clero nativo. Quero abrir uma ressalva para contar o que acontece aqui na Amazônia: é bom que o padre se aposente quando não mais tiver condições de trabalhar e que continue na sua paróquia, como emérito, sendo sustentado, ajudado, cuidado e tratado condignamente até o dia de sua morte, pois, enquanto o de congregação tem a congregação para cuidar, quem trata do diocesano que não tem onde cair morto quando deixa a paróquia e vai viver de que? De brisa, de esmola, fora da paróquia onde exauriu todas as suas forças?

Mitra

5 - Para que entendam o clero do lugar, é digno e justo, razoável e salutar que os bispos não sejam impostos e sim, indicados pelas comunidades, sobretudo aqui na Amazônia, no Pará, onde parece que a igreja parou no Brasil colônia e ainda somos terra de missão (desmembre e crie urgente, muitas dioceses, aqui – veja a do Xingu, como exemplo, é do tamanho de uns quantos países europeus - elas são imensas, ficando impossível um bom trabalho pastoral, precisamos, de saída, de, pelo menos, umas vinte). Queremos ser pastoreados por gente nossa, carinhosa, misericordiosa, que sejam verdadeiros pastores, pais, afetuosos, que aconchegam suas ovelhas e as compreendem, perdoam, amam, sacerdotes nascidos aqui, gente nativa que compreende nossa gente, nosso jeito, nossa cultura. Nós gostamos de fazer festa pra santo, rezar, dançar e festejar bebendo, é nosso jeito de comemorar e ter fé e nessas beiradas de rio, na floresta onde não existe hospital – quem cuida de nossas doenças é o pajé a quem os antropólogos denominam de xamã -, escola, igreja, apenas uma capela de madeira coberta de palha, construída pelo caboco com muito sacrifício, sempre convivemos com o sagrado e o profano e nunca perdemos nossa crença, nossa fé em Deus e em Nossa Senhora, são Benedito e os demais santos. Falar nisso, queremos também ter os nossos: santos, cabocos paraenses e citamos alguns: o Monsenhor Edmundo Igreja, dom Milton Pereira, Severa Romana, Camilo Salgado e tantos outros do devocionário popular.

6 - Observando seu jeito humilde e simples, franciscano, tomara que muitos padres e bispos e arcebispos arrogantes, metidos a príncipes se mirem no senhor e comecem a mudar o jeito de tratar o povo que hoje tem medo de padre, de bispo, então, tem pavor.

Fonte: foto retirada do blog: zelmar.blogspot.com

7 - Tomara que muito pároco, espelhado no senhor, se desfaça de tanta empáfia e poder e batize as crianças de pais separados, de pais que vivem em convivência estável.

8 - Tomara que as igrejas fiquem abertas mais tempo – ressalvando a segurança necessária - para o povo poder ir a qualquer hora rezar, agradecer, ficar lá em contemplação, pois hoje, vivem fechadas, ressalvadas algumas exceções.

9 - Tomara que os casamentos, batizados, crismas sejam feitas de modo simples, sem pompa, sem custo alto, preço que ninguém pode pagar e sem exigir roupa especial que o povo não pode comprar.

10 – Tomara que muitos párocos simplifiquem as coisas nas paróquias e seja possível falar com eles, confessar, conversar.

11 - Tomara que não haja necessidade de diáconos, ou seja, clericalizar os leigos – conforme suas palavras no texto abaixo que transcrevo* - e que os leigos possam ajudar sem que estejam revestidos de glória e poder das batinas e estolas, que cria distância e burocracia desnecessárias.

12 – Toma que muitos padres, espelhados no seu exemplo se aproximem novamente do povo, que sejam simples, deixem de usar batinas e optem por usar a roupa comum do povo e participem da vida comunitária como gente da gente.

13 - Aproveite os padres casados para ajudar no que sabem fazer e até celebrar missa se houver necessidade.

14 Deixe livre para que as mulheres possam ajudar nas paróquias mais, além de ser apenas ministras extraordinárias da Eucaristia.

15 - Não permita que um pároco – cujas muitas atribuições exigem até cooperadores – acumule esse encargo sério e trabalhoso ocupando cargo político ou burocrático nas repartições públicas como prefeitos, diretor de museu, guia de turismo ou similar. Pois é verdade que ninguém pode servir a dois senhores, neste caso, Igreja e Estado.

16 - Não permita que a igreja se transforme numa empresa para que a paróquia não vire uma loja onde tudo se vende e que nos seminários se ensine ao futuro padre a administrar uma paróquia e se não tiver esse dom, que não seja nomeado pároco.

18 – Sugiro que sejam feitas aqui pro Norte, pra Amazônia, os próximos eventos mundiais, como o da Juventude, das Famílias e outros, afinal, existimos, mesmo abaixo do Equador.

19- Temos, no Pará, em Belém, a maior procissão religiosa do mundo, o Círio de Nazaré. Venha aqui em outubro, para ver a necessidade de que a igreja universal perceba esse evento que merece, inclusive uma diretoria feita de gente de todo o Estado, representantes de todos os segmentos de nossa população, sensíveis às vontades do povo, o verdadeiro dono do Círio.

Círio de Nazaré; foto de Jean Barbosa

20 - Quanto às demais questões complexas, espero que seus assessores, consultores, conselheiros, teólogos e estudiosos subsidiem o senhor com reflexões que possam ajudar a tomar decisões sábias para o bem de toda a Santa Igreja de Cristo, que entendo ser simples, cada vez mais humana, acolhedora e misericordiosa.
* “Há um problema, eu disse outras vezes: a tentação da clericalização. Nós, os padres, tendemos a clericalizar os leigos. Não nos damos conta, mas é como contagiá-los com o nosso estilo. E os leigos, não todos, mas muitos, nos pedem de joelhos para clericalizá-los, porque é mais cômodo ser coroinha do que ser protagonista de um caminho leigo. Não podemos cair nessa armadilha, é uma cumplicidade pecadora. Nem clericalizar, nem pedir para ser clericalizado. O leigo é leigo e tem que viver como leigo com a força do batismo, que o habilita para ser fermento do amor de Deus na própria sociedade, para criar e semear esperança, para proclamar a fé, não de cima de um púlpito, mas a partir da vida cotidiana. E carregando a sua cruz de cada dia, como todo mundo. E a cruz do leigo, não a do padre. A do padre, o padre que carregue, que Deus deu ombro suficiente para o padre carregá-la." Palavras do Papa Francisco, quando bispo na Argentina.

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