segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

A IGREJA DE SANT’ANNA DA CAMPINA - QUE É A CARA DE MONSENHOR NELSON SOARES - JÁ ESTÁ ABERTA À VISITAÇÃO E RELEMBRA OUTRA BELÉM.

Salomão Larêdo, escritor e jornalista. 

Embora eu não goste da pintura – amarelão, branco e verde – que foi feita na Igreja de Sant’Anna, no bairro da Campina, em Belém, felizmente já pode ser visitada após a entrega pelo Instituto do patrimônio Histórico – Iphan. 

Igreja de Sant’Anna

A IGREJA DE SANT’ANNA DA CAMPINA RELEMBRA A GOSTOSA BELÉM DE OUTRORA. LÁ OS PADRES CASARAM, OS BEATOS TOCAVAM IÊ IÊ IÊ E ERA O LOCAL DOS INTELECTUAIS 

A saudade de ver e fruir esse espaço me levou a uma visita rápida para registrar o retorno do patrimônio ao povo que pode rever a imagem de são Pedro com seu pé quente e pé frio (leia mais sobre este costume ou mito no livro “A GAROTA QUE TENTOU BATER NA MÃE COM A VASSOURA E FICOU SECA, NA HORA” de nossa autoria, o órgão (Cavaille Coll, restaurado por Monsenhor Nelson Soares, músico, que também restaurou o da Catedral de Belém quando foi o Cura) foi recolocado na parte do côro, deixando o altar mais livre para ser apreciada sua estética.

Monsenhor Nelson Soares, moderno e corajoso sacerdote, músico, jornalista, escritor, é a cara da Igreja de Sant'Anna.

Olhei a linda abóbada e lembrei de Antônio Landi. Mas, a Igreja de Sant’Anna é a própria cara do Monsenhor Nelson Soares, pois este sacerdote durante muitos anos foi seu vigário (hoje se chama pároco), padre moderno, atualizado, corajoso, jornalista, escritor, amigo dos jovens e dos intelectuais ( era lá que eles se encontravam para assistir as missas celebradas pelo Monsenhor Nelson Soares e participar de atividades culturais) frequentavam, além das missas e liturgias, inclusive a confissão e a absolvição comunitárias celebradas modernamente conforme o concílio ecumênico Vaticano II que ainda estava em curso, abria a Igreja de Sant’Anna às promoções sociais e culturais, recitais de música erudita, apresentação do madrigal da Universidade Federal do Pará, dirigida pelo maestro Nivaldo Santiago, encenação de peças teatrais dirigidas por Cláudio Barradas, era o centro das passeatas estudantis na época da ditadura militar, lá diversos padres que haviam deixado o ministério sacerdotal, casavam e um dos casamentos mais comentados pela mídia foi o padre Luiz Silvério Maia com sua noiva Edith e foi esse grande e intrépido de Monsenhor Nelson, que abriu a igreja para o som das guitarras elétricas do famoso conjunto “ Os Beatos” que se apresentavam no local , às 10 da manhã, no auge da beatlemania, tudo, na década de 1960, de uma Belém que o jornalista José Sampaio de Campos Ribeiro denominou inclusive com o título de seu livro de “ A gostosa Belém de outrora”, parecia ser mais politizada e mais culta, na área comercial onde, aos sábados, todos passavam e passeavam por lá: políticos, jornalistas, professores, jogadores de futebol, povo em geral, escritores, comerciantes, universitários, e sobretudo, os jovens desfilando seus trajes modernos e todas as mutações da época de ouro, paquerando e curtindo a jovem guarda com Roberto Carlos querendo que tudo fosse pro inferno e o conjunto “Renato e seus blue caps”, as novidades dos festivais de música com Caetano e Gil e Chico Buarque mandando ver a banda passar, comentários do Tuca e as peças proibidas, as grandes contestações, guerra do Vietnã, a revista Realidade Amazônica e faziam enorme sucessos as músicas francesas e italianas , destacando-se o sucesso “ amore scusa-me” e as cenas do filme “Candelabro Italiano” exibido no cinema Palácio e as sessões de arte no Olympia com os filmes de Godard, Pasolini, Glauber, Rossselini, Bergmann, Fellini, Truffaut, leitura de Kafka, Drumond, João Cabral e sua morte Severina, Guimarães Rosa e nessa área comercial existia o jornal “ A Província do Pará”, e a “Vanguarda”, dos Diários e Emissoras Associados, que mantinha aqui a TV Marajoara Canal 2, da sua rede Tupy de televisão, existia também a Livraria Martins, outro ponto de encontro dos intelectuais e o sebo do Dudu e o Arquivo Público, a Folha do Norte e a Folha Vespertina, O Liberal, a Fábrica Palmeira, o hotel Coelho, Central Hotel Grande Hotel, Booth Line, Odalisca, Ateliê de Tó Teixeira, Western, A Pernambucana, Tecidos Lua, O Cosmorama e outras e outras que o leitor deste blog se recorda, com absoluta certeza e pode acrescentar.

___________________________
Leia também:

Nenhum comentário: