sexta-feira, 12 de outubro de 2012

ESSE TAR DE SEBRAE

Estive na manhã desta sexta-feira, na “Feira do Círio e do Miriti”, na Praça Waldemar Henrique e, para não ser cem por cento, apenas um artesão do miriti , com quem conversei, estava contente –“aqui estamos abrigados do sol e da chuva”, os demais, insatisfeitos com o ambiente fechado – “parece um circo” -, muito normatizado e cheio de regras, com hora pra abrir e fechar. “Onde já se viu uma feira abrir às 9 horas e fechar dez da noite? E que não nos dá chance de elaborar o artesanato? “Ou seja, eles só podem vender, fabricar, não. E indicaram não ser “mendigos” como teria sido chamados por alguém da direção com que estão magoados pela incompreensão inclusive de não ter onde se alojar. “...viemos do interior e não temos conhecidos aqui...”. “... Se Deus quiser, para o ano, não vamos mais estar de parceria com “esse tar de Sebrae”.


Mesmo sabendo de toda boa intenção e vontade e do empenho do Sebrae em ajudar e ofertar melhores condições, o certo é que fica uma lição: na cultura popular não se deve interferir, principalmente na produção espontânea, como é o caso dos que sabem trabalhar com o miriti. Eles se sentiam mais livres quando o ambiente era de feira, na praça do Carmo ou na Sé. “Lá a gente chegava e vendia a qualquer hora, fosse 2 da madrugada ou 7 da manhã, todo mundo passava, até nos ônibus e nos via, aqui, estamos escondidos, limitados no tempo e no espaço...”


O QUE PUDE VER, CONSTATEI E DEDUZI:

O ambiente com o conforto do ar refrigerado é ótimo, mas, é pequeno e em razão disso congrega poucos artesãos em pequenos boxes. Os artistas são acostumados a elaborar suas peças ou dar-lhes acabamento no local da exposição e ali, realmente não há condição. Talvez pela insatisfação, o ambiente, pelo menos no tempo em que lá estive, estava pesado, tenso, triste, nem parece que estamos no tempo do Círio, que é uma magia de amor e paz em toda a cidade. O caboco paraense gostar de liberdade, ambientes abertos, transparentes, todo mundo passando, falando, rindo, comentando, galhofando e isso faz a festa, trás alegria e uma musicalidade especial, sobretudo na véspera do Círio onde a emoção está em toda parte e o brinquedo de miriti é um componente importante da festa de Nazaré.


A comparação que se pode fazer, é como se alguém tentasse colocar a feira do Ver-o-Peso com toda aquela algazarra, brincadeira, bizarrice, odor de gente, de comida, de fruta, num armazém fechado e com normas rígidas inclusive com horários pra isto e aquilo? Ficaria sem graça, não seria feira.


Cheguei às 8h30 na praça e recebi a informação dos guardas de segurança de que só abriria às 9 , como de fato, acontece nos shópingues. Reclamei, mas, esperei a hora determinada. Mas, ao entrar, um senhor me disse baixinho: “não se preocupe, ano que vem ,estaremos livres dessa burocracia, na praça, só nós, sem o Sebrae”. 


Alguém pode até manobrar as massas, mas o povo, jamais. O caboco paraense é povo, sabe o que quer, sabe o que fazer, como fazer e faz bem sua arte popular, sem tutelas. Foi o que deduzi.

Penso que uma conversa franca, um meio termo entre as coisas, um modo inteligente e competente de negociar com o artista popular pode gerar uma solução que viabilize a convivência e contemple a sequência de uma mostra tão rica e importante que é a nossa cultura popular que precisa ser mais apoiada e elaborada esteticamente, estimulada, desenvolvida e mais conhecida. Fica a dica.


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