quinta-feira, 12 de setembro de 2013

ENCANTAMENTOS DE JURUTI*

salomão Larêdo escritor e jornalista


No Circuito Literário pelo Baixo-Amazonas, Juriti mostrou seus encantos e dediquei minha participação a dois grandes jurutienses amigos. Um, da minha juventude, Jofir Raimundo Lima de Souza, e o outro, da fase adulta, seu André Barroso de Souza.

Jofir, colega do colégio do Carmo, figura impar pelo generoso coração, sabendo de minha situação de dificuldade, repartia a merenda comigo e esse gesto, jamais esquecerei. Soube, muito tempo depois, que o pai dele fora prefeito em Juruti e então prestei minha homenagem ao Jofir e sua família, na certeza da amizade consolidada na estima de irmãos.


Com seu André, que tinha idade pra ser meu pai, pude receber, através das nossas prosas intermináveis, o exemplo do amor à família, ao local de origem e à sua gente; como devemos ser entusiastas pela vida, apesar das dificuldades. Com seu André, passeei por uma Juruti imaginária de tal maneira que estando ali, pela primeira vez, era como se ele estivesse (e estava, sentia sua presença) ao meu lado, alegre e ufanoso, mostrando, no real, o que me narrava nas nossas conversas em Belém. Fiz-lhe então, a homenagem póstuma sobretudo quando entrei na igreja de Nossa senhora da Saúde de quem ele era devoto e rezei por sua alma que sei repousa junto de Deus-Pai e da Virgem da Saúde e ampliei a minha modesta homenagem aos seus filhos e demais familiares, todos, gente da melhor qualidade e também meus amigos.

Nossa Senhora da Saúde

E, de carona na motocicleta de Mileide Lira, pude ouvir relatos de trabalho com a cultura popular de que se nutre a literatura que eu faço e que sintetizo aqui.

DOMINGAS GUIMARÃES – PARTEIRA EXPERIENTE
D. Domingas

Varamos o quintal e lá encontramos com Domingas Guimarães, 82, casada, sete filhos e que desde os quinze anos, aprendeu a fazer parto, porém, foi com a tia Maria Oliveira que concluiu o aprendizado, sabendo extrair a placenta e acha que isso é um dom que recebeu, e que calcula tenha aparado mais de uma centena de crianças e que depois foi contratada para ajudar no hospital municipal de Juruti o que resultou numa aposentadoria que dá pra ir vivendo e consertando desmentidura e puxando barriga de mulher e tirar quebranto de criança.

Sabe dizer que começou a aplicar a sabedoria que Deus lhe deu, no seu lugar, em São João do Araçá, interior de Juruti e que tem êxito em seus préstimos porque reza muito.

-E como a senhora faz pra curar desmentidura?
- Rezo.
- Como é a reza?
- São Sebastião, pregador de ossos, carne rendida com veia arrebentada, não venho prender osso, venho ligar de (diz o nome da pessoa) e faz mais orações e benzeção em cima da desmentidura e continua benzendo diversas vezes.


E pra tirar quebranto, como procede?
Faço uma reza, assim: com duas te puseram, com cinco eu te tiro com as palmas de são João Batista e santa (inaudível). Ó bom Deus que sois a verdade pela verdade, tirai o quebranto dessa criatura . Benzo três vezes com folha de vassourinha e alho.

Domingas disse que atualmente, pra fazer um parto, cobra trinta reais. E sente enorme satisfação quando as pessoas a procuram e resolvem seus problemas, como por exemplo, uma espinha na garganta que ela reza pra São Brás e consegue livrar a pessoa daquela angustiosa situação.

HELENA AZEVEDO  ACERTA SEMPRE A DATA DO PARTO E  A HORA EM QUE  OCORREU  GRAVIDEZ  E SE É MENINO OU MENINA
D. Helena
Helena lavava roupa no quintal limpo e grande, cheio de plantas e árvores frutíferas que proporcionam sombra, quando entramos de motocicleta, pedindo licença e ela mandou-nos sentar nos bancos e foi logo contando que faz reza pra tirar quebranto, conserta osso e puxa barriga de mulher prenha e que acha que é um dom que trouxe de nascença desde que se entendeu e passou a executar com a idade de sete anos, num lugar na costa de Óbidos, onde nasceu e depois veio pra Juruti onde permanece até hoje.

Casa de Helena

Helena Moreira de Azevedo, nasceu no dia 28 de agosto de 1946, é casada, tem filhos e diz que não cobra nada por seus serviços, mas, se a pessoa lhe trouxer qualquer coisa como agradecimento em reconhecimento pelo atendimento, aceita.

Para o quebranto, apenas reza um Pai-Nosso pedindo a Deus que afaste o quebranto daquela criatura e então benze. Explica que o quebranto dá na criança e o mau olhado, no adulto. Na criança, os próprios pais ou parentes ou amigos é que passam quando chegam em casa com fome, cansados ou de porre. E o mau-olhado, é passado por uma pessoa que chega perto do outro de cabeça quente, olhar tristonho, faminto.

É preciso distinguir. O mesmo mal, em criança, se chama quebranto e em adulto, mau olhado.

Para o mau-olhado, Helena passa banho de arruda com mucura-caá, folha de café, folha de caneca e usa um pingo de álcool.
Caso tenhas as citadas plantas em seu terreiro, ela dá. Do contrário, a pessoa vai ter que ir atrás desses ingredientes e fazer logo o banho e usar, porque o mau-olhado vai chamando outras doenças

Porém, o dom maior de Helena é pra puxar barriga de mulher prenha. Ela informa que é muito procurada e que garante saber, sem errar, se a criança é homem ou mulher. Explica que ao passar a mão no ventre, percebe, depois de um mês, se há alguma coisa roliça, qual uma bolinha que quando a mão desliza, a bolinha vai baixando. Essa é característica de que aquele feto é do sexo masculino, é homem.

Como é o procedimento quando a mulher chega com a senhora?

Pergunto quando ela ficou boa da menstruação. Com essa informação certa, eu sei dizer que a gravidez se deu dia tal, por exemplo, cinco dias depois que ficou boa da menstruação e é homem porque o calculo pode ser feito com dez dias e é mulher, porque só dá pra ser feito o cálculo, com vinte dias e a data do parto, calculo também. Homem adianta cinco dias e mulher, dez dias. Helena explica que jamais errou em seu cálculo, mas que essa é uma conversa entre ela e a gestante, cada caso é um caso e só conversando com a mulher, depois de ter todas as informações é que emite sua opinião, sua previsão, que ela garante, nunca falhou.

E se a gravidez é de risco, há ameaça de aborto, Helena recomenda chá de guia de algodão e folha de canela pra aguentar a criança.

Helena se apressa em dizer que não faz aborto, que seu trabalho é para ajeitar a criança pra nascer, puxar a barriga para a criança ficar certa, no canal, para que a mulher tenha um bom parto e nunca para fazer a mulher perder a criança.

BIBLIOTECA - O SONHO MAIOR


Mileide

Mileide Sueli Bentes de Lima, 22, solteira, um filho (Murilo, de 3 anos de idade) faz graduação em Matemática à distância pela UFPA, é de Juruti e coordena, há 4 anos, a Biblioteca Municipal Manoel Marinho da Silva, criada em 1990, com acervo de 3 mil obra de literatura e 5 mil didáticos e  pequena para o fluxo de usuários.
Vera, Mileide e Vilma

O espaço é digno, limpo, claro, boas acomodações, climatizada, mas realmente pequeno e o sonho de todos é ter uma biblioteca maior, “pois queremos ampliar o número de leitores que ainda é acanhado”, informa Mileide Sueli.

Na biblioteca Mileide conta com o apoio de duas auxiliares: Eliana Barbosa Lopes e Idaliana de Melo Nascimento e o objetivo atual é conscientizar os professores para que atuem junto aos pais e professores para a importância da leitura, saber usar e cuidar do livro, devolução e sobretudo, saber pesquisar, porque o fluxo maior de usuários é em razão da pesquisa que é solicitado aos alunos, informa Mileide que ganhou experiência no trabalho há muitos anos, ajudando a mãe Maria Graciede nas atividades da biblioteca e consequentemente, desenvolveu o amor pelos livros.

ARTESANATO


Os artesãos de Juruti trabalham associados e sabem que unidos progridem. Tem sede com salas para exposição e venda, local de reunião e confecção dos objetos.


FESTIVAL DAS TRIBOS INDÍGENAS DE JURUTI

O tribódromo é local das disputas das tribos Munduruku e Muirapinima, a cidade fica toda animada e recebe visitantes de toda parte, no final do mês de julho, evento que acontece desde 1986.



FARTURAS E RIQUEZAS

Fartura de água, fartura de peixe – jaraqui - fartura de boas condições de vida a uma população que tem mina de bauixita, riqueza que está sendo levada pelo menos quatro vezes por mês em navios que transportam uma média de 55 mil toneladas, por viagem, carga que sai da Alcoa em de Juruti, no Pará e segue à Alumar, no Maranhão, valendo 5 milhões e cujo frete custa um milhão e quatrocentos mil e o que fica ao povo? Por isso, o empenho de gente consciente em desenvolver a prática da leitura que gera o leitor crítico que promove a consciência da sociedade que sabe e exige seus direitos.



VALORIZAR O QUE É NOSSO


O Circuito Literário é uma promoção da Fundação Tancredo Neves executada pela gerência de Leitura e visa valorizar o escritor paraense e sua obra com o contato direto dos autores com o povo, objetivando desenvolver a leitura a partir do conhecimento da obra. Em Juruti, estiveram os escritores paraenses Salomão Larêdo e Walcir Monteiro, assessorados pelas técnicas da FCPTN, Vera e Vila Lacerda e com patrocínio do Banco da Amazônia e o apoio das prefeituras das cidades visitadas. Dois dias, pela manhã e a noite, os escritores interagiam com estudantes e professores da rede pública municipal e estadual que também participavam de oficinas e debates que proporcionam a evolução da consciência sócio-cultural apta à ação política dos cidadãos.


* Devido o grande número de visualizações, repetimos esta matéria publicada neste blog em julho de 2012.

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