sábado, 28 de abril de 2012

SEBO ITINERANTE DO LUCIVAL COMPLETA

DEZ ANOS INDO ATRÁS DO LEITOR Lucival Lobato era um reconhecido empregado numa importante e famosa livraria de Belém quando os clientes começaram a adquirir livros pela internet e as livrarias tiveram que dispensar os empregados e Lucival, que acumulara conhecimento no mercado de livros, vendo a dificuldade da empresa em pagar sua indenização, fez um acordo: recebeu tudo em livros. Seus colegas acharam aquilo uma temeridade, Lucival também, mas, intuía que tinha que arriscar e raciocinou : vou tentar vender esses livros e depois arranjo outro trabalho. Deu certo.


O que Lucival pegou em livro da indenização que a livraria devia, logo retornou, porque ele, por experiência no ramo, não esperou o leitor, foi atrás dele. Misturou livro usado e livro novo. Pegava informações de eventos: feiras, simpósios, encontros, seminários, palestras e ia lá expor seus livros passando também a frequentar os corredores das salas de aula no campus da Universidade Federal do Pará, no Guamá, em Belém e nos campus da Universidade do Estado do Pará-UEPA e outras instituições do ensino superior e foi ampliando sua audácia e seu trabalho: ir aos campus do interior. Pegava os ônibus com as caixas de livros e armava os expositores em Bragança, Cametá, Castanhal, Carajás e outros e outros espaços que ele ia solicitando com seu jeito acanhado-afável.. Vida de sacrifício, pouco capital, quase nenhum apoio ( há ainda hoje, instituição pública - que deveria ser a primeira a estimular e incentivar - , que em troca do consentimento para que Lucival exponha os livros, cobra até diária dele ou pede ajuda, pede livros e o recurso, que é pequeno, fica ainda menor) Lucival luta com dificuldade para se manter e à sua família. Mas, não esmorece, procura conviver bem com todos e sabe que precisa dos espaços e das pessoas para manter seu negócio. O tempo correu e Lucival recebeu proposta de trabalho numa livraria. Aceitou, mas não deixou de levar adiante seu negócio que passou a ter a colaboração de Edirene Aguiar, que, além de gostar de livros, interage bem com o mundo acadêmico, professores e alunos, funcionários. Os dois armam e expõem os livros e Edirene fica tomando conta e, no final do dia ou do evento, Lucival vai desmontar e fazer os acertos. O que ganham, “ dá pra sobreviver”, comentam, os dois.


- O que vende mais? - Pessoal procura o livro usado por ser mais em conta, revela Edirene. E o que compram preferentemente? - Literatura em geral. Mas isso varia de lugar pra lugar, do tempo, do evento de diversos fatores, explica Lucival. Edirene está no circuito dos livros, há 5 anos e Lucival, completa 10 em 2013. No início era apenas um expositor ou sapateira, hoje, são seis, cheios de livros. Lucival confessa que , quando não há eventos, está sempre nos corredores da UEPA e no Centro de Letras da UFPA, na área do básico ou no “hangarzinho” , apelido do Centro de Convenções “Benedito Nunes”, da UFPA. Uma coisa que Lucival não abre mão é de manter uma estante com livros de autores paraenses, que sabe, vende pouco, mas “ é importante valorizar o que é nosso e tê-los, o pessoal se surpreende: puxa como temos muitos escritores e muita produção que não conhecem e isso me deixa contente. Claro que Lucival e Edirene gostam de livros e são leitores e ficam contentes quando muita gente os procura, encomenda livro, troca informações sobre produção editorial Eles não se preocupam com concorrência e sabem que existem muitos vendedores autônomos itinerantes iguais a eles .Convivem fraternalmente com todos que vendem livros. Edirene posou - para registro fotográfico para este blog - junto com Suely Mangas Macedo, da Livraria Didática, propriedade de Ciro Mangas, que concentra seus negócios, no campus da UFPA, em Belém , mas também faz itinerância. Vai agora em maio, participar do “Salão do Livro”, em Santarém.


E assim, esses anônimos vendedores de livros prestam enorme serviço facilitando a vida do leitor que quer comprar livros e não encontra tempo e nem oportunidade, mercado que vem crescendo em Belém e no Pará. Eles vão onde há movimento, há gente circulando. Sabem que é importante o que fazem, afinal, quem trabalha com livros é porque se interessa pelo desenvolvimento cultural da comunidade e tem consciência de que coopera para a formação do leitor, para a conquista da cidadania cultural que faz a diferença quando se deseja uma sociedade mais justa, mais fraterna e mais feliz !

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