quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

APRESENTO OS PRIMEIROS LIVROS COM OS QUAIS COMECEI MEU APRENDIZADO: LIVROS DE MEU PAI MILTON LARÊDO E MEU TIO JAIME LARÊDO



É com alegria, prazer e orgulho que apresento ao amigo leitor, os  primeiros livros com os quais comecei o meu aprendizado de afeto e carinho pelo livro, leitura, conhecimento, saber, em suma, amor  pelo ser humano, minha gente e minha região.
Foram nos livros do papai e do tio Jaime que aprendi a anotar, a gostar de escrever, a fazer narrativa, a contar histórias, a registrar fatos, igual como eles procediam.

  Faço constar aqui um pequeno exemplo:
  Lembram da crônica dos 50 anos da  nossa chegada a Belém que postei aqui neste blog dias atrás?

Agora você leitor pode, através da caligrafia de meu pai, verificar e comprovar esse registro feito com caneta-tinteiro. A arte da grafia, da letra desenhada, tracejada, pensada, do manuscrever, agora, nestes tempos pós-modernos, virou peça de memória. Felizmente, tenho como mostrar essa arte do carinho, primeiros caminhos do jornalismo informativo, que, com eles, aprendi, cedo.


Obs:  O  leitor pode fruir com mais vagar esses registros – aqui apenas uma pequena mostra -    nos livros  A Família Larêdo e Vila do Carmo do Tocantins .





QUER SABER COMO SALOMÃO LARÊDO TORNOU-SE ESCRITOR E POR QUE É LIGADO ATAVICAMENTE À AMAZÔNIA,  AO LIVRO E À LEITURA E QUER AJUDAR A FORMAR  LEITOR CRÍTICO E INSTALAR BIBLIOTECA EM TODA PARTE?  

No interior da Amazônia, biblioteca pública hoje ainda é um sonho. Imagine nas décadas de 1930/1940/1950?


Em 1935, tio Jaime constituiu, na sua Casa Feliz, no rio Trombone, em Cametá, pouco a pouco, sua biblioteca particular e ouvindo o canto do Araçari e do Uirapuru, enquanto a maré enchia, maravilhava-se com as narrativas dos livros de  Machado de Assis a Oscar Wilde, de Aluísio de Azevedo, a Raimundo Moraes.  Quer saber mais? Leia o texto a seguir:
OS LIVROS DO TIO JAIME E A CASA FELIZ
Corria o ano de 1935, tio Jaime Larêdo, depois de muita luta e após ganhar experiência trabalhando com o comerciante e político cametaense Ivo Gaia, conseguiu montar seu estabelecimento comercial no rio Trombone, que serpenteava paralelo ao rio Paruru, e denominou de “Casa Feliz” , onde, eu, menino, na década de 1950,  passei muitas férias agradáveis, feliz e sem imaginar que tempos depois irromperia o escritor que sou e escreveria o romance que denominei de “Remos de Faia” , claro, tendo  essa “Casa Feliz, de Jaime Larêdo”, como um dos cenários, o rio e a floresta como locação dessa narrativa cujos personagens  trazem carimbado o carinho e o afeto existente naquela paisagem no âmago da Amazônia  que eu tanto amo e procuro defender.

A “Casa Feliz”, plataforma de lançamento de minha vida literária no sentido de ter  feito lá, também,  a  minha nutrição literária, sobretudo telúrica, abrigava, entre outros tesouros, um maior, a biblioteca do tio Jaime , que ele chamava de “modesta”  certamente por ter uns 300 exemplares que ele pouco a pouco foi adquirindo, com dificuldade.

O que chama a atenção, é a preocupação desse homem com a leitura, o conhecimento, o saber, a informação, no meio da floresta amazônica, que, se nos dias atuais  ainda é  desprovida de  equipamentos  básicos ao ser humano, como educação,  saúde, saneamento, transporte, energia elétrica, meios de comunicação e outros, imagine-se na época a que estou me referindo.
E no meio dessa dificuldade – tio Jaime que seguramente deve ter  aprendido  um pouco com seu pai, o meu avô Manoel Larêdo, que era professor de matemática, e o resto amealhara , qual meu pai, o seu irmão Milton Larêdo  com seu autodidatismo - esse  sapiente tio Jaime, antes de mais nada, buscou apoio nos livros, seus amigos, formando uma biblioteca, embarcação segura  a lhe dar o suporte de que precisava; daí seu carinho  com quem poderia contar  a  qualquer momento  e por isso, além dos livros do acervo terem registro em  caderneta  própria, tio Jaime também anotava os livros que efetivamente lia e a diversidade fazia a diferença: filosofia, literatura, medicina, antropologia, direito, política, religiosos, didáticos, revistas etc., afinal, ele precisa saber, pois no armazém naquele verde-vago-mundo, ele era marido, patrão, o padre (ajudando na época da desobriga, sua casa virava capela às  missas e o abrigo do sacerdote), o psicólogo, o médico, o  cirurgião (operou o José, meu irmão, que  nascera  com a  língua presa), o homem de negócios, o amigo que todos  estimavam e confiavam – seu livro contém anotações de inúmeros afilhados que batizou - por seu caráter e senso de justiça, valores  com que conduzia a sua vida.
Examinando, após sua morte (14 de maio de 2001, aos 87 anos de idade),seus livros de  anotações, verifico que leu, de  Machado de Assis a  William  Shakespeare, de Oscar Wilde a Victor Hugo, Aluisio de  Azevedo, Rui Barbosa, Raimundo Moraes, Arthur Porto, Humberto de Campos,  José Lins do Rego e tantos outros.


No período em que frequentei a “Casa Feliz”, no rio Trombone (1955 a 1958), vivendo e convivendo com tio Jaime, minha madrinha Nenem, o Expedito, filho de criação,  a Maria Gonçalves, a Maria Lúcia e um monte de agregados e empregados, ele sempre ávido por saber, conhecimento e informação,  já possuía   fábrica de sabão de cacau,  procedia engarrafamento de  vinho tinto, adquiriu máquina de fazer macarrão; utilizava gravador, manuseava máquina  fotográfica, walk-tolk, tinha  motor de popa chamado penta, hoje rabeta, geladeira  a querosene, que, além de fornecer a novidade da  água gelada, produzia o  picolé que fazia a nossa alegria (a casa sempre estava cheia de familiares e amigos) .
   No oratório, próximo ao quarto do casal, todos participávamos , às terças-feiras à noite, da novena do Perpétuo Socorro, irradiada pela  PRC-5 Rádio Clube do Pará que se ouvia através do  aparelho que funcionava  a pilha seca por onde ficávamos sabendo  dos fatos noticiosos sobretudo  no  campo da política  na capital federal, o Rio de Janeiro,  e  pelo Brasil ;  a cotação de preços  de couros e peles, além  das narrações esportivas dos jogos  entre os times do Remo, Paissandu, Júlio César, Avante, Liberato de Castro, Tuna e as disputas entre as seleções  do Pará e do Amazonas,  ocasião em que vibrávamos no salão do casarão, onde se misturavam os odores dos óleos e essências amazônicas armazenadas nos camburões de  azeite de andiroba  e copaíba,  amêndoas  como muru-muru e outras  sementes oleaginosas cheirosas que comprava e revendia em Belém, pra onde viajava atrás de aviamentos ao seu comércio no interior cametaense e sempre trazia novidades em fazendas, louças e outras  miudezas, sal, café,  charque,  bolacha, farinha, tabaco, remédios  e outros produtos necessárias ao povo da floresta e  ribeirinho.
  Tempos depois, tio Jaime pôde  sintonizar outras emissoras andando por  todo o casarão com seu rádio transístor, a pilha.  Bastava o mercado  consumidor  lançar  alguma novidade, Jaime Larêdo fazia tudo para adquirir. Morava  no  meio da floresta, à beira do rio Trombone , mas procurava cercar-se de todo conforto  e facilidade que a tecnologia oferecia, inclusive um aparelho de frisar cabelo que deu de presente à sua mulher Urbana, a querida tia Nenem.
  Não tenho a menor dúvida, que, vivendo nos dias de hoje, estaria cercado de toda parafernália tecnológica, pois era um homem moderno, antenado com o que acontecia. Naquela época, em 1950,contemporâneo, já lia livros de semiótica que encontrei  mencionado por ele  entre os  “livros que li”.
  A leitura  deu estofo pra  tio Jaime ser correspondente de jornais e de revistas e colaborador  da Folhinha do Sagrado Coração de Jesus, editado pela Vozes  que, durante o ano, publicava suas trovas, adivinhações, curiosidades, palavras cruzadas que ele produzia à  beira do rio Trombone na sua faina de encher e vazar. Fez cursos por correspondência, elegeu-se, por várias legislaturas, vereador , chegou à presidência da  Câmara Municipal de Cametá e aos sessenta anos, concluiu o ensino médio pelo método modular  em Vila do Carmo onde era  líder comunitário, presidente da Festa do Carmo, Cartorário e  ávido leitor que devorava os jornais que meu pai, toda semana,  juntava e remetia pelas embarcações e que ele lia, todos, de ponta a ponta, anotando e, pedindo livros que, agora  ,era  eu quem  o municiava.
  Não tenho dúvida,  tio Jaime, grande humanista,  foi e continua sendo  um  dos meus influenciadores,  espelho e exemplo de amor ao livro e à leitura,  ao saber, ao conhecimento, à curiosidade, também  exemplo de generosidade, amor a Deus,  ao próximo, à família, ao ser cidadão.
 Onde nos encontrávamos, tecíamos prosa interminável, igual a que ele  mantinha com tio David, seu primo padre,  e seus irmãos, notadamente meu pai, Milton, num zelo fraterno,  amoroso, cheio de respeito, atenção , compreensão e carinho, afeto traduzido em   estima e consideração que sempre percebi existir entre os meus familiares, mamãe e seus irmãos e meu pai com os  irmãos dele  e isso entrelaçado de maneira tão profunda que hoje me serve de exemplo e faz-me muita falta.
  Além de sobrinho e afilhado, tornei-me como um filho do tio Jaime e por isso, não era à toa que ele se empolgava com meus pequenos êxitos no  início de minha carreira  de jornalista e sobretudo, a literária, que  acompanhou  com vivo interesse e muito orgulho, a partir do final da década de 1960, ele    domiciliado e residente,  de retorno,   à  Vila do Carmo -  onde  três gerações  da família Larêdo nasceram -, sempre sorrindo, alegre e feliz como se eu, o sobrinho predileto e afilhado, fora o filho biológico que ele e tia Nenê, sua mulher,  nunca tiveram.

















































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