segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Tradição popular e outras prosas

Edição de 08/09/2008 - O Liberal

Salomão Larêdo escritor e jornalista

É da cultura do caboclo paraense, é costume do povo simples alegrar-se na festa do padroeiro do seu lugar e beber nessa ocasião. Querer proibir isso é inteferir na raiz cultural popular, oprimir mais ainda o povo paraense, além de ser ato autoritário, infeliz. Festa de santo no interior sem beberagens, impossível! Não é de nossa tradição nesse sentido a lei seca. O caboclo passa o ano inteiro guardando alguma importância em dinheiro para adquirir roupa nova, a fim de usar no dia da festa do seu santo e não pode beber uma cerveja com os amigos? Ora vige, sumano.

2. Sociedade que paga milhões a um jogador de futebol; que paga milhões a modelo, por um desfile de roupas; que paga milhões para ver as melancias, abacaxis se rebolarem, quer ter estudantes empenhados em estudar, pesquisar, adquirir conhecimento através dos livros ? Impossível. Resultado é o que lemos no noticiário.

3. Beatriz, leitora, 8 anos de idade, conversa comigo, argumenta, questiona, reivindica, sugere, analisa e numa prosa recente disse-me o que acha do uso da sirene pela Polícia Civil. "Tio, ao que parece, quando a polícia usa a sirene dos carros a todo instante nas rondas, ela, na verdade, espanta a bandidagem porque com este sinal, eles se mandam, se evadem. Se a polícia chegasse quieta e cautelosa, surpreenderia os marginais e os prenderia e não fazia poluição sonora de que estamos cheios em Belém. O uso da sirene pode ser inclusive, uma senha: afastem-se, bandidos, que a polícia está no pedaço e aí não detém ninguém. Acho que a polícia deveria usar a sirene penas em ocasiões especiais." É isso aí, Bia!

4. Leio, neste espaço do leitor, o pessoal de Bragança, Vigia, Barcarena reclamando da falta de luz. O José me diz que na Vila do Carmo (Cametá) falta luz diariamente e por tempo longo. Acredito no que me dizem, e os que sabem, comentam que uma das razões é que a fiação da Celpa está obsoleta, precisa trocar tudo imediatamente, sob pena de haver blecaute em todo o Pará. Temos bastante energia elétrica, que é cara, de péssima qualidade e ainda vive faltando. O que adianta sermos o maior produtor?

5. Sugere-se à diretoria do Círio a aquisição do espaço onde hoje está o McDonald’s para poder refazer alí o igarapé onde Plácido achou a imagem da Virgem de Nazaré. A cidade agradeceria ter de volta um de seus mananciais para amenizar o calor de romeiros e romários.

6. Quando houver investimento equânime em educação e cultura, podemos falar também em investimento democrático na área esportiva, com possibilidade de acabar com os donos da cultura - os mandarins do cânon literário -, do esporte - os mandarins do futebol, do vôlei e outros. A escola deve ser o caminho natural, o celeiro de tudo, de onde saem os que vão para o sacerdócio, magistério, esportes, danças, literatura etc., desde que as escolas sejam locais agradáveis, casas de formação com alimentação para o corpo e para a alma. Nesse sentido, pode ser postivo o Brasil não disputar copa do mundo. Precisamos acordar.

7. Devemos reativar a Estrada de Ferro de Bragança. Digo devemos porque o povo é quem manda, e isso se chama democracia. Rodovia é um meio, mas precisamos de trens. E recomeçar por onde terminaram seria ato de justiça!

8. Lanchônibus que saísse de Icoaraci até a Ufra, pela baía de Guajará, aliviaria o tráfego na cidade.

9. É tão pouco o que recebemos pela nossa província mineral explorada e pela energia elétrica aqui produzida, pela madeira e outros. O que estamos esperando?

10. Seria tão bom se Belém fosse uma cidade limpa! Quem sabe consigamos fazê-la para comemorar seus 400 anos de fundação, em 2016.


Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Profº Salomão
Gostei imensamente deste artigo, onde o Senhor ressalta a importância da leitura por prazer e também se revela uma pessoa de grande sensibilidade e preocupação com os futuros leitores.
Obrigada!