MARAVILA, A MINHA VILA DE NOSSA SENHORA DO CARMO DO TOCANTINS
Dinan Larêdo
Essa tão querida Vila do Carmo debruçada sobre o grandioso
rio Tocantins, é encantada.
Se perfuma com cheiro de rio, recende a pitiú; exala
odor do mato.
Se mistura de essências, estratos da terra, beijos
das marés, cheiros de pedras e barro, folhas e frutos, uruares.
Tem as beiradas bordadas de aningais e aturiais.
Enfeitada de açaizeiros e miritizais, sedutora
mulher a enfeitiçar e enlouquecer quem a vê.
Mistério do encante, apaixonas, atrais e prendes em
teus humores, tuas alegrias de preamares.
Deixa-te penetrar pela luz do sol, intensa. Permites
que a chuva te acaricie o rosto e que os banzeiros façam cócegas ou cuticas em
teu corpo ardente que se espraia de desejo. Oh, vem...
E quando prenha de águas, fecundas de prazer quem em
ti se agasalha em banhos de paz.
Bonita, minha Vila querida, estás sempre, toda manhã
em sinfonias de saracuras e sabiás, cantagalos e os acordes das embarcações que
mareteiam tuas águas pontilhadas de loucuras de todas as matizes e açucenas dos
orvalhos.
E em tapetes de pedrinhas, piçarras correm e
estampam tuas ruas, cruas; sopra o vento e o som dos hinos dos maparás brilham
nos jiraus cheios de limão azedo, nesse duarvo que enebria no moquém da mesa
com vinho de açaí e farinha d’água do centro. Ah, sabores!!!
Milton Larêdo, na frente da casa onde nasci.
E tucumãs contam inajás que falam ingás nas tardes
que embalam tacacás com pimenta malagueta e camarão de matapi e cacuri da
tapagem em alegres tucupis que as cigarras anunciam o sol que declina no Baxo e
faz plástica na hora das Ave-Marias dos balaústres que suportam a magia da
festa de botos nas águas tipitingas que levam, Moiraba a dentro, o enfeite da poesia que se renova a cada manhã nas
graças do viver em harmonia com flora e fauna, amigos e parentes, sem precisar traduzir
a fala do homem sábio e feliz, que passa em seu casquito, remando, saboreando porroncas, carregando pivides que
renovam a esperança de felicidade que se chama Vila do Carmo, poema de amor e
de amar apreciado, enleado, fisgado,
visgado, seduzido e sedutor desde meu bisavô Jacob com sua Tereza, meus avós
Manoel e José, com as
vovós Almerinda e Ana, passando por meu
pai Milton, meus tios Artênio, Jaime, David, Moisés, Jacob, Vivico, Adonis,
Mirico, Góes; tias Dinoca, Nenê, Ninita, Otília, Raquel, Domingas, Zita, Pêca, parentes e amigos, minha mãe Lady e meus irmãos Adalcinda,
Ocirema, José e Abrão, meus sobrinhos, minha mulher Maria Lygia e meu filho
Filipe nessa continuidade estética e poética, de vida e de sorte de ser e de
ter este paraíso, bem em frente à casa onde nasci vendo festaria dos
botos, das jatuaranas, dos maparás,
cobra-grande, matinta, fogo fátuo, visagens,
do lendário e do imaginário que povoam minha vida com a
mitopoética que me sustenta de
poesia que se chama e é, Vila do Carmo, pura sedução, seduziu-me e eu me
deixei seduzir por ela estando no ventre de minha mãe e já pulava em seu seio,
atraído pelas encantarias do rio que me chamava para o mistério, para que eu
fosse um de seus tradutores, se é que essa beleza pode ser traduzida na tênue
palavra de que não sei dizê-la por ser mais forte que eu e que se chama Vila do
Carmo do meu amor, da minha vida, da minha paixão, do meu prazer e do meu viver
embevecido por essa paisagem que meus olhos na mais tenra idade, contemplaram,
pela própria condição de filho desta terra de Nossa Senhora do Carmo; desta
terra do Espírito Santo, dos cacauais e seringais, dos que antecederam e dos
que me sucederão no canto encantado que a Vila do Carmo perece ser cantada pelo
encanto sedutor que ela imana e imanta cercada de palmas do povo mais querido
de minha terra querida e amada, distinguida com o adjetivo “inesquecível” por
meu pai Milton, seu menestrel, aquele que me ensinou, junto com minha mãe Lady, a ler este espaço com as letras da estima, com o olhar da ternura e
do amor em perene devaneio...
Adalcinda Larêdo, na rua da Vila
E de onde vem este ímã?
Do poder das águas, da beleza do rio com suas
maretas e banzeiros, das lendas, da floresta que encanta e é encantada e visga
as pessoas. Do clima, da índole de quem habita aqui e é simples e tocado por
uma carícia e um carinho, uma afetuosidade traduzida na doação generosa de
cajus do mato, de mangas, palmas de pão, gergelins, jambus, goiabas,
gengibirras, garrafadas, banhos e sombras do arvoredo dos furos e igarapés
gapuiados de tanta estima, assim, sem menos nem mais e muito, muito e muito
mais...
E quando há festa de santo – Festa do Carmo, do Divino,
São Sebastião, São Benedito e tantos outros -, os doces dos Furtados, as
novenas, ladainhas e missas, foguetes de rabo espocam no céu brilhante,
miritis, carnes de capivara, jacaré, pirarucu, de porco, jatoxis, maparás,
tucunarés, pimenta de cheiro, sal e limão e acaris fazem a mesa farta de tudo
quanto.
Ah, Vila do Carmo, querida e amada, por teu feitiço,
no teu feitiço, me enfeiticei! Julho/2002.
Vila do Carmo do Tocantins é uma poesia e Salomão transpira a nossa bem amada terra em textos que nos remetem lembranças suaves.
ResponderExcluirNossa Carmo do Tocantins é exatamente esse sentimento descrito pelo imortal Salomão Larêdo.
Dinan Laredo.