MINHA MISSÃO É SER PROFESSORA!
Graduada em pedagogia Edilena Lopes, 44, presentemente faz o curso de Letras, na Universidade Federal do Pará, através do Parfor. No período de aulas, ela segue diariamente de Mocajuba, onde mora, até Baião – o transporte faz o percurso em 40 minutos pela estrada -, onde funciona o núcleo universitário.
Com atividades na área do magistério, casada, mãe de filhos,
é líder comunitária, estudantil e acumula ainda
a tarefa de ser a representante
de sua turma, na verdade, uma mãezona para os colegas e muita atenta às
necessidades de cada um, adotando todos, reivindicando, analisando, sugerindo e
zelando pelo bem-estar dos colegas e inclusive dos professores.
Procurando dar oportunidade ao leitor de obter dados à análise de como está ou se faz Educação na Amazônia, continuamos a publicar entrevistas e informes com os que se dedicam à atividade do magistério no interior da região amazônica, principalmente os que exercem esse apostolado em áreas mais pobres e com menos recursos, nas sedes municipais ou na zona rural ou área ribeirinha, quilombola, nos cacauais, nos aningais, nos furos e igarapés, sem apoio da tecnologia, sem recursos didáticos do suporte impresso e, mesmo com toda dificuldade, continuam, anonimamente a fazer a sua parte.
Procurando dar oportunidade ao leitor de obter dados à análise de como está ou se faz Educação na Amazônia, continuamos a publicar entrevistas e informes com os que se dedicam à atividade do magistério no interior da região amazônica, principalmente os que exercem esse apostolado em áreas mais pobres e com menos recursos, nas sedes municipais ou na zona rural ou área ribeirinha, quilombola, nos cacauais, nos aningais, nos furos e igarapés, sem apoio da tecnologia, sem recursos didáticos do suporte impresso e, mesmo com toda dificuldade, continuam, anonimamente a fazer a sua parte.
Em nossa linha filosófica de informar, de valorizar o que é
nosso, de laborar na educação, solicitamos e a professora Edilene Lopes
concedeu, por e-mail, ao nosso blog, uma micro-entrevista. Saboreie, vale a
pena.
ESTUDO - O IMPOSSÍVEL – PRA NÃO VIRAR VADIA – O FUTURO
“Nasci em Mocajuba, na região do Baixo Tocantins no dia 06 de outubro do ano de 1968. Filha do casal de lavradores Emílio Franco Corrêa e dona Maria do Rosário Evaristo Corrêa, a quem devo tudo o que sou, pois apesar de não terem tido oportunidade de ampliar os seus estudos,fizeram o impossível para que os filhos estudassem e assim garantissem um futuro melhor.
Minha mãe contar que quando meus dois irmãos mais velhos, Manoel
e Adailton atingiram a idade de estudar,
meu pai sentenciou:
- Vai pra a cidade com esses meninos para que eles possam
estudar !
Alguém comentou com minha mãe: mais uma vai virar vadia na
cidade. Devia mandar os meninos estudar e voltar para cá.
Na época, o pessoa do interior mantinha a ideia de que
colocar filho pra estudar longe de casa e a mãe vir junto, é porque aquela pessoa era vadia. Nesse tempo mamãe estava
no oitavo mês de minha gestação e por isso
acredito que vim ao mundo pra ser
professora.
Em toda minha infância e adolescência estudei em Mocajuba na
‘Escola Almirante Barroso’, muitas vezes com fome, sem chinelos para os pés, porém,
estava lá garantido o meu futuro.
Hoje posso dizer em alto e bom som que sou pedagoga !
Casada com Rosinaldo de Carvalho Lopes, sou mãe de Quézia
Vitória com 16 anos e Lucas Emílio de 5 anos.Trabalho como professora do 3º ano, na
“Escola Lauro Sabbá”, na cidade de
Mocajuba.
AUTO-CRÍTICA
Entendo que quem quer ser professora, esposa, mãe,
estudante, precisa, em primeiro lugar,ter um visão de mundo,de realidade e uma
consciência crítica,histórica,sobre a sociedade
em que vivemos no sentido de saber se questionar: eu vou ser tudo isso, pra que? com que intenção?
Edilena Lopes, Quézia Vitória, Lucas Emílio e Rosinaldo de Carvalho Lopes
Pra ajudar na mutação social, transformando coisas que a
gente enxerga e com as quais não compactua, não aceita.
Eu penso que a escolha da docência deveria passar muito por
esse olhar analítico.
Além da consciência, é preciso ter um desejo grande, disponibilidade para assumir estas responsabilidades, estas atividades, ou seja, ter ação política.
Porque, seja como
professora, mãe,esposa, temos o privilégio de trabalhar com o que há de mais precioso de todo o processo humano, que é a pessoa. São as pessoas.
E ser líder, como é?
- Sou dona de casa. Quanto a ser líder eu não sei me calar
diante de coisas que me incomodam, fico angustiada com injustiças,ainda mais
quando é contra crianças, idosos e principalmente com os meus companheiros da
educação, já fiquei fora de projetos por ser questionadora.
E ser professora?
- Ser professora é um desafio do qual eu não abro mão, e
quanto maior for a luta tenho certeza que muito maior será a vitória na
consecução dos ideais, dos sonhos, das utopias.
- E o que você tem que superar no seu
cotidiano de aluna e professora e esposa e mãe, o que é?
Edilena não titubeia
e responde prontamente:
A INTOLERÂNCIA É UM DESAFIO
- Bom, o que tenho que superar para fazer mais um curso
superior são inúmeras coisas. Posso citar aqui algumas das quais eu penso que
são mais desafiadoras que é a falta de apoio do poder público para com os
professores que não estão estudando nas suas cidades, a insegurança na estrada,
mas de tudo isso o que mais me desafia são as intolerâncias das pessoas que pensam micro e não macro, só pensam em si
e não no coletivo, no bem comum de todos e pra todos.
Todavia, mesmo com todas essas barreiras – as que citei e
não disse pra não alongar - , continuarei crente de que é através da educação
que podemos ter um mundo mais justo,mas humanizado e mais solidário.E pretendo
com este curso continuar com os meus pés sempre no chão,e continuar sempre
ouvindo o que sempre ouço de pais que me abordam nas ruas "gostaria que
meu filho fosse seu aluno”.
Ah! Calma ia esquecendo, eu fui aluna de Salomão Larêdo.
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