sexta-feira, 17 de agosto de 2012

ENTREVISTA COM EDILENA LOPES

EDILENA LOPES afirma:

MINHA MISSÃO É SER PROFESSORA!

Graduada em pedagogia Edilena Lopes, 44, presentemente faz o curso de Letras, na Universidade Federal do Pará, através do Parfor.  No período de aulas, ela segue diariamente de Mocajuba, onde mora, até Baião – o transporte faz o percurso em 40 minutos pela estrada -, onde funciona o núcleo universitário.


Com atividades na área do magistério, casada, mãe de filhos, é líder comunitária, estudantil e acumula ainda  a tarefa de ser  a representante de sua turma, na verdade, uma mãezona para os colegas e muita atenta às necessidades de cada um, adotando todos, reivindicando, analisando, sugerindo e zelando pelo bem-estar dos colegas e inclusive dos  professores.

Procurando dar oportunidade ao leitor de obter dados à análise de como está ou se faz Educação na Amazônia, continuamos a publicar entrevistas e informes com os que se dedicam à atividade do magistério no interior da região amazônica, principalmente  os que exercem esse apostolado em áreas  mais pobres e com menos recursos, nas sedes municipais ou na zona rural ou área ribeirinha, quilombola, nos cacauais, nos aningais, nos furos e igarapés, sem apoio da tecnologia, sem recursos didáticos do suporte impresso e, mesmo com toda dificuldade, continuam, anonimamente a fazer a sua parte.

Em nossa linha filosófica de informar, de valorizar o que é nosso, de laborar na educação, solicitamos e a professora Edilene Lopes concedeu, por e-mail, ao nosso blog, uma micro-entrevista. Saboreie, vale a pena.

ESTUDO - O IMPOSSÍVEL – PRA NÃO VIRAR VADIA – O FUTURO

“Nasci em Mocajuba, na região do Baixo Tocantins no dia 06 de outubro do ano de 1968. Filha do casal de lavradores Emílio Franco Corrêa e dona Maria do Rosário Evaristo Corrêa, a quem devo tudo o que sou, pois apesar de não terem tido  oportunidade de ampliar os seus estudos,fizeram o impossível para que os filhos estudassem e assim garantissem um futuro melhor.

Minha mãe contar que quando meus dois irmãos mais velhos, Manoel e Adailton atingiram a idade de estudar,  meu pai  sentenciou:

- Vai pra a cidade com esses meninos para que eles possam estudar !
Alguém comentou com minha mãe: mais uma vai virar vadia na cidade. Devia mandar os meninos estudar e voltar para cá.

Na época, o pessoa do interior mantinha a ideia de que colocar filho pra estudar longe de casa e a mãe vir   junto, é porque aquela pessoa  era vadia. Nesse tempo mamãe   estava no oitavo mês de  minha gestação  e por isso  acredito  que vim ao mundo pra ser professora.
Em toda minha infância e adolescência estudei em Mocajuba na ‘Escola Almirante Barroso’, muitas vezes com fome, sem chinelos para os pés, porém, estava lá garantido o meu futuro. 
Hoje posso dizer em alto e bom som que sou pedagoga !

Casada com Rosinaldo de Carvalho Lopes, sou mãe de Quézia Vitória com 16 anos e Lucas Emílio de 5 anos.Trabalho como professora do 3º ano, na  “Escola Lauro Sabbá”, na cidade de Mocajuba.

Edilena Lopes e Rosinaldo de Carvalho Lopes

AUTO-CRÍTICA
Entendo que quem quer ser professora, esposa, mãe, estudante, precisa, em primeiro lugar,ter um visão de mundo,de realidade e uma consciência crítica,histórica,sobre a sociedade  em que vivemos no sentido de  saber se questionar: eu vou ser tudo isso,  pra que? com que intenção?

Edilena Lopes, Quézia Vitória, Lucas Emílio e  Rosinaldo de Carvalho Lopes

Pra ajudar na mutação social, transformando coisas que a gente enxerga e com as quais não compactua, não aceita.
Eu penso que a escolha da docência deveria passar muito por esse olhar analítico.

Além da consciência, é preciso ter um desejo grande, disponibilidade para assumir estas responsabilidades, estas atividades, ou seja, ter ação política.

Porque, seja como professora, mãe,esposa, temos o privilégio de trabalhar com o  que há de mais  precioso de todo o processo humano, que  é a pessoa. São as pessoas.

E ser líder, como é?

- Sou dona de casa. Quanto a ser líder eu não sei me calar diante de coisas que me incomodam, fico angustiada com injustiças,ainda mais quando é contra crianças, idosos e principalmente com os meus companheiros da educação, já fiquei  fora de projetos por ser questionadora.

 E ser professora?
- Ser professora é um desafio do qual eu não abro mão, e quanto maior for a luta tenho certeza que muito maior será a vitória na consecução dos ideais, dos sonhos, das utopias.

 - E o que você tem que superar no seu cotidiano de aluna e professora e esposa e mãe, o que é?

Edilena não titubeia e responde prontamente:

A INTOLERÂNCIA É UM DESAFIO
- Bom, o que tenho que superar para fazer mais um curso superior são inúmeras coisas. Posso citar aqui algumas das quais eu penso que são mais desafiadoras que é a falta de apoio do poder público para com os professores que não estão estudando nas suas cidades, a insegurança na estrada, mas de tudo isso o que mais me desafia são as intolerâncias das pessoas  que pensam micro e não macro, só pensam em si e não no coletivo, no bem comum de todos e pra todos.
Todavia, mesmo com todas essas barreiras – as que citei e não disse pra não alongar - , continuarei crente de que é através da educação que podemos ter um mundo mais justo,mas humanizado e mais solidário.E pretendo com este curso continuar com os meus pés sempre no chão,e continuar sempre ouvindo o que sempre ouço de pais que me abordam nas ruas "gostaria que meu filho  fosse seu aluno”.

Ah! Calma ia esquecendo, eu fui aluna de Salomão Larêdo.

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