O cemitério da cidade
de Baião se chama “São José”. Existe há muitos anos. Na frente, fica uma
pracinha onde marreteiros, nos finais de semana, vendem redes de dormir. Em
frente, antes do porto, no rio Tocantins, fica a biblioteca pública, em outra
praça e havia ainda o campo de futebol perto da cadeia. A cadeia pública, foi
incendiada há tempos e o campo, virou área residencial e de torres receptoras
telefônicas.
Morre pouca gente em
Baião, conforme os cálculos do zelador, que, de cabeça diz que há uma média de
2 enterros por mês e 50 sepultamentos por ano com exceções. Há pouco tempo adotou-se
livro de registro de sepultamentos.
No cemitério há a lápide
da sepultura do fundador de Baião, o português Antonio Baião[1]. Há sepulturas
do intendente Levindo Rocha e de seus familiares. Há registros de sepulturas
antigas, com inscrições feitas em mármore, na parte da frente do cemitério hoje
murado e com algum espaço livro para enterros.
As sepulturas são
feitas ao modo simples, do interior, caixilho em madeira, cruz com inscrição do
nome, data de nascimento e morte e girândolas de flores feitas artesanalmente,
antes de papel crepom, que logo se acabava e hoje, de plásticos, com maior
durabilidade, penduradas sob o lenho.
Para saber mais sobre
este campo santo, remeti por e-mail, algumas perguntas e solicitei ao prof. Nemias
Rodrigues que fizesse a entrevista com o zelador do único cemitério na cidade
de Baião. O resultado é o seguinte:
Meu nome é Alberto
Nunes Coutinho. Nasci em Tucuruí, mas na certidão de casamento consta Baião[2], pois vim com dois
meses de nascido pra Baião. Não possuo certidão de nascimento. Sei que nasci no
dia 6 de agosto de 1936. Meu pai chamava-se Verediano Macieira Coutinho e minha
mãe, Maria Rosalina Nunes Coutinho. Sou casado e o nome da minha mulher é
Laurice de Medeiros Coutinho, temos 8 filhos, 5 homens e 3 mulheres. Só tenho o
5º ano primário, porque naquela época esse é o máximo de estudos que uma pessoa
podia fazer aqui em Baião.
Sou o zelador do
cemitério há 35 anos. Profissão antiga:
funileiro/operador. Atual: zelador do cemitério.
Comecei a trabalhar dia
3 de fevereiro de 1977 e nesse dia observei que havia uma placa na capela com a
data de 1878, porém essa data é da construção da capela. O cemitério já existe
há muito tempo antes e é o único da cidade.
- Há cemitério dos judeus?
Onde, quantas sepulturas?
Não há cemitério
israelita aqui em Baião. Havia uma sepultura da família Benchimol, [3]mas não existe
mais nenhum registro.
- É verdade que existia
uma parte neste cemitério onde eram enterrados os judeus? E o que
aconteceu para não haver mais sepulturas de judeus? Caso tenham sido
destruídas, ficou algum registro, pedra, nome, etc?
Alberto responde:
-Nunca houve nenhuma
parte destinada aos judeus. Só foi enterrado um judeu no cemitério, era gente da
família Benchimol. Os judeus que morriam em Baião eram enterrados no cemitério
de Cametá[4], naquela cidade,
visto que lá existe cemitério de judeus.
Aqui em Baião, neste
cemitério onde sou zelador, a área do cemitério na qual havia a sepultura desse
judeu da família Benchimol, foi destruída quando foi procedida uma reforma e
foi feita uma grande limpeza com pá mecânica no cemitério. Hoje não há nenhum
registro.
- Existe um livro de registro de sepultamento?
Quais judeus foram sepultados aí?
Alberto responde:
- Existe um criado no ano de 2000 pra cá.
Antes dessa data, não há nenhum registro de sepultamento.
- O senhor tem medo de
trabalhar aqui neste cemitério?
Alberto responde:
- Não. Inclusive vou ao
cemitério a qualquer hora da noite, caso seja necessário, até sepultamento já
fiz, à noite, vários, pois é permitido fazer enterro a qualquer hora na noite,
em caso de emergência, quando fica impossível segurar mais o corpo insepulto.
Alberto conta que
existe uma pessoa em Baião, que , quando está porre, dorme dentro do cemitério
e isto é uma ocorrência costumeira.
- Existe casos de
visagens? Quais?
- Não conheço, não sei
falar, nunca vi uma visagem. O que eu sei dizer é que o que faz a pessoa ver visagem,
é o medo, e isso, eu não tenho.
CURIOSIDADES
A - Contam, em Baião
que, nos tempos passados, pai de prole numerosa e muito rígido na educação dos filhos,
quando pequenos, tirava o medo, mandando-os à meia-noite deixar uma encomenda
para ser colocada no meio do altar da capela, sob os protestos da mãe, que nada
podia fazer.
B – Consta que, existe
no cemitério de Baião sepultura de uma pessoa - Pedro Caldas - que era peoara em
contar piadas na cidade e que na lápide da sepultura, há esse detalhe que chama
a atenção por ser uma inscrição diferente das costumeiras.
[1]
Manoel Carlos da Silva, diretor de índios, teve permissão do governador para
fundar e fundou, a 30 de outubro de 1769, sob o título de Lugar do Baião (Originalmente,
em 1694, concedeu-se ao português Antonio Baião, uma sesmaria que abrangia essa
área, cf Ignácio Baptista Moura in “De
Belém a S. João do Araguaia”, p. 126/129) uma povoação, com 30 índios.
[2]
Tucuruí fazia parte do município de Baião e só se tornou autônomo, em 1945.
[3]
Hoje, em Baião, há registro apenas de alguns membros da família Nahmias. Antes,
além da Benchimol, havia os Azancot.
[4]
Cametá mantém cemitério israelita. Em décadas passadas, havia em Cametá, uma
sinagoga, era a única, fora de Belém, para onde convergiam os judeus que
moravam no Baixo-Tocantins. O rio Tocanrtins tragou a sinagoga que fica na
primeira rua da cidade que desapareceu nas águas. E no cemitério de Cametá, os
judeus enterravam seus mortos. Por isso, quem morria em Baião, era enterrado em
Cametá.
3 comentários:
No item [3] foi mencionado o nome da Familia Azancot. Existe algum post neste blog falando mais a respeito da origem dessa família? Obrigado.
Antônio, infelizmente só há esta citação sobre a família Azancot
Antônio, infelizmente só há esta citação sobre a família Azancot
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